Oscars 2023, “Avatar”: os deslumbramentos do “rei do mundo”

Oscars 2023, “Avatar”: os deslumbramentos do “rei do mundo”

Fevereiro 28, 2023 0 Por admin
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Por André Gonçalves

É caso para dizer, pegando noutro título em competição por prémios de “melhor do ano”: à oeste nada de novo. 14 anos volvidos sobre o primeiro Avatar, James Cameron baralha e volta a dar, procedendo a um milagre tecnológico da multiplicação. A caminho vem pelo menos mais dois filmes, mas sabemos que aberta a caixa de Pandora, tal como Star Wars, não viveremos para ver o último.

E o que inicialmente era “Mèliesco” pelo fenómeno novidade (nomeadamente o 3D, a dar os primeiros passos), hoje é um mero parque de diversões Disneyland, onde o preço do bilhete vai justificando à risca a experiência. Será este o tão falado cinema do futuro? Tememos uma resposta afirmativa.

Nada contra o espectáculo visual, atenção… que aliás, permanece aqui o grande trunfo nesta segunda toma – e em boa verdade, a grande constante do cineasta ao longo da sua carreira de quatro décadas, onde a máxima comercial passou a ser também: “Nunca apostar contra Cameron; vais perder dinheiro”. Falamos do autointitulado Rei do Mundo, afinal, um cineasta que se não tivesse algum talento (e claro, tivesse pertencido a qualquer minoria independentemente do talento) era imediatamente cancelado pela sua arrogância desmedida. Mas o que é certo é que o homem tem continuamente cumprido e, talvez com muita inteligência, tenha sabido esperar entre obras. 

O espectador pode ter aqui algumas das vistas mais deslumbrantes que 2022 ofereceu, mas a disparidade entre o que vemos e o que ouvimos parece-nos mais acentuada que nunca, sobretudo quando o tempo estica para lá das 3 horas de duração. Cameron, o escriba, nunca foi tão bom como Cameron o realizador, é certo, mas houve sempre limites. Claro que Titanic reciclava “Romeu e Julieta” e o primeiro Avatar bebia da história de Pocahontas sem qualquer vergonha, só para citar dois exemplos clássicos da sua filmografia. 

Mas aqui vemos pela primeira vez um Cameron revivalista, em modo “best of”, a tentar condensar referências passadas, no que pensa ele ser a última coca-cola do deserto – algo que não tinha acontecido nos altamente icónicos Aliens e “T2“, que eram claramente filmes bem independentes dos que os precederam e não se sentiam de todo inseguros no seu modo de expandir a história. 

Aqui há efetivamente uma tentativa de expansão do mundo de Pandora, da floresta para os mares, e há também uma virtualização quase total do espaço, onde as poucas personagens humanas surgem mais como memórias. É caso para dizer que se o espectador já se sentia eriçado a ver o primeiro filme e a compará-lo com um videojogo, então recomenda-se um calmante antes de entrar nesta continuação. 

Terá este espectador ficado mais cínico com o tempo, enquanto que o mago permaneceu no seu planalto de segurança? É possível. Fica a dúvida, dada a recepção ainda assim positiva a O Caminho da Água, que permitiu ao filme ser uma das raras sequelas a ser nomeada para o Oscar de Melhor Filme. 

Será um filme para confirmar um poderio técnico, sem dúvida (o Oscar de Efeitos Visuais estará no papo), mas até aí não temos novidades para quem sempre acompanhou a carreira de Cameron com bastante agrado. Do meu lado, e não tendo visto o infame Piranha II, é a primeira vez que o Rei me desilude, ao ponto de me questionar se valerá a pena investir mais nesta saga, pelo menos a pagar do meu bolso, independentemente do que o “marketing” possa ditar no futuro.

Mais sobre os Oscars 2023 aqui.