
Música, cinema, ecologia: arranca hoje (20/10) Porto/Post/Doc
A 8ª edição do festival decorre entre 20 e 30 de novembro. Tem como espaços o Teatro Municipal do Porto – Rivoli, Passos Manuel, Coliseu Porto Ageas, Planetário do Porto e Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto.
Cada vez mais um dos eventos marcantes na descentralização geográfica dos festivais, o Porto/Post/Doc insiste em peculariedades – como uma abertura com um clássico do cinema mudo com uma orquestra ao vivo.
Maria do Mar é um dos últimos antes do sonoro, mas também um dos primeiros a investir numa mistura de registo etnográfico (a abordagem realista da vida dos pescadores da Nazaré) com ficção (a história de duas famílias que tornam-se rivais após um acidente no mar).

O filme foi reconstruído em 4k e, em 1999, Bernardo Sassetti escreveu a partitura que viria a aprimorar ao longo dos anos. José Leitão de Barros, uma das referências do cinema produzido dentro do Estado Novo – mostra-se aqui um realizador claramente sintonizado com tendências do cinema internacional.
A sessão de encerramento decorre no Coliseu Ageas e traz a instalação de vídeo e performance musical As Filhas do Fogo, de Pedro Costa os Músicos do Tejo – mistura de teatro, música e cinema organizado pelo mais reconhecido dos cineastas portugueses.
Entre a vasta programação dedicada ao cinema português, Rodrigo Areias apresenta Arte da Memória, obra sobre Daniel Eunice Muñoz é recuperada em Eunice ou Carta à uma Jovem Atriz, as antigas vizinhanças lisboetas de Alfama e Mouraria são visitadas em Do Bairro.

Da floresta à guerrilha: Brasil
O cinema brasileiro aparece em quatro títulos – com temas vinculados, de diferentes formas, à violência: contra os índios (A Última Floresta, que segue um líder ianomami no interior da floresta amazónica cada vez mais devastada por garimpeiros), contra as mulheres (Edna, que reconstrói a história de uma guerrilheira sobrevivente na ditadura militar nos anos 70), contra a comunidade LGBT (Madalena, de Madiano Marchetti e Transviar, de Maíra Tristão).
Mais música

Os documentários sobre ícones culturais são sempre das seções mais populares dos festivais documentais – e Porto/Post/Doc dedica uma inteira (Transmission) à música. Entre os grandes destaque estão Moby (Moby Doc, foto de abertura), onde o famoso músico nova-iorquino discorre sobre as razões de não ter encontrado a felicidade apesar do sucesso, e outro ícone da música eletrónica, o DJ francês Laurent Garnier surge em Off the Record.
Da esfera “indie” Freakscene – The Story of Dinossaur Jr. debruças-se sobre a carreira “noise” do grupo “yankee”, enquanto os mais recentes Idles chutam tudo com o seu “punk” (rótulo que odeiam…) energético. São agraciados com Don’t Go Gentle – A Film about IDLES. Em outros lados a cena “skate” tem um encontro interracial com o “hip hop” configurando uma cena única nos anos 90 – documentado em All the Streets Are Silent.
Baltimore-Paquistão

As retrospetivas recaem sobre dois cineastas com a carreira em plena construção – o norte-americano Theo Anthony e o paquistanês Basir Mahmood. No caso de Anthony, duas longas e quatro curtas tem como eixo principal a questão da perceção da realidade – partindo de acontecimentos na sua cidade natal (Baltimore), como uma invasão de ratos ou a morte de um jovem negro pelas forças policiais.
Do primeiro, o esteticamente mais acessível Chop the Money, uma poética e dura recriação da vida de crianças no Congo, ao último – o ambicioso All Light, Everywhere, estreado em Sundance, que tem como ponto de partida o uso de “body cameras” pelas forças policiais nos Estados Unidos.
Já Mahmood teve seis das suas idiossincráticas curtas-metragens selecionadas – todas se debatendo sobre a repetição dos atos quotidianos e cuja reunião mereceu da curadoria o título de “Espaço de Cinema para Entrar e Repirar”.