Madonna: “remixes” para a nova era

Madonna: “remixes” para a nova era

Agosto 25, 2022 0 Por admin
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Por André Gonçalves

“Finally Enough Love…” foi uma das letras mais marcantes de “Madame X”, um tema que parecia aqui e ali já um clássico saído das mesmas sessões que originaram “Vogue” há mais de 30 anos (“I Don’t Search I Find”). E estando Madonna, mesmo em modo revisionista, sempre tentando a todo o custo ouvir em primeiro lugar o passado mais presente e a tentar montar a obra seguinte em função da anterior, faz sentido que tenha nomeado assim esta compilação de 50 remixes que foram #1 na pista de dança – um dos seus muitos recordes.

Quer tenha sido imposição da Warner, onde M voltou recentemente a assinar contrato após uma década sob alçada da Interscope, quer tenha partido de uma nova fase de abrandamento e de celebração pura da própria artista, ou uma mistura das vontades das duas partes, esta compilação tem a particularidade de estar orientada para um dos habitats naturais da música da “Rainha Mãe da pop” (conforme Beyoncé recentemente a chamou): a discoteca.

Muitas foram as vezes onde a dança foi usada no seu catálogo como sinónimo de inspiração (“You can dance for inspiration”), liberdade (“Only when I’m dancing can I feel this free”/”Let your body move to the music”), partilha de amor (“I wanna dance with my baby”/”You wanna dance? Yeah”) ou mesmo comparada a uma necessidade biológica (“I need to dance” – infelizmente de um tema que não foi single, logo não consta deste lote de 50 temas: “I’m Addicted” de “MDNA”). Mas não se pense que este catálogo de #1s reflete apenas a sua relação de raiz com a música dançável. Houve também aqui e ali intenções de transformar baladas como “Don’t Cry For Me Argentina” (“Evita”) e. mais notavelmente. “What it Feels Like For A Girl” – onde o remix foi tão bem-recebido que foi usado no videoclip controverso realizado pelo então marido de M, Guy Ritchie.  

Sendo 50 faixas a edição mais completa – existe já há umas semanas no mercado a versão simplificada de 16 temas para os menos fanáticos, e tendo a cantautora tido sempre uma relação sempre saudável com os DJs com quem também tem colaborado, e não se tendo inibido de conversão de baladas em remixes dançáveis, não será chocante que estes #1s da “Billboard Dance” estejam bem espalhados ao longo de 40 anos de carreira. Todos os seus álbuns de estúdio estão representados em pelo menos um tema, e o seu último álbum de estúdio tem inclusive direito a quatro presenças,

Nem todos os remixes serão do agrado de quem ficou muito agarrado às versões originais, ou os mais preconceituosos com alguns dos convidados aqui (LMFAO, Aviici, etc.); e uns quantos serão mais reconhecidos do grande público pela sua presença quer em formato videoclip (para além do já mencionado “What It Feels Like For a Girl”, temos também os casos de “Celebration” e “Express Yourself”, cuja versão do álbum foi preterida pelo remix), apresentações ao vivo (“Living For Love”, “Sorry”) ou então o remix nada mais é do que a versão single (“Vogue” por exemplo, talvez o seu tema mais icónico).

À falta de novidades para os fãs mais atentos, temos pelo menos uma compilação que segue atentamente os 40 anos desta discípula de Bowie e Warhol, que tentou sempre fazer da pop espaço para experimentação de novas “personas” e sons que casassem com essas novas personalidades, ao mesmo tempo que adotou uma prática de corte e colagem, a fazer uso da máxima Warholiana da “pop art”: pop é repetição, mesmo que a própria possa dizer que não se gosta de repetir em entrevistas… Algumas das rimas e expressões repetidas como “Waiting/Hesitating” (“Hung Up”, “4 Minutes”) ou “Like a moth to a flame” (“To Have And Not To Hold”, “Turn Up The Radio”, “Addicted”) fazem sorrir os apoiantes e rir os detratores e alguns fãs insatisfeitos, que consideram estas repetições parte de um esgotamento criativo.

Faltam singles? Faltam. Madonna tem pelo menos mais 39 singles não-promocionais, e com catálogo tão vasto é difícil fazer um registo de êxitos que se sinta definitivo. “Angel”, “Lucky Star”, “Drowned World/Substitute for Love”, “The Power of Goodbye” são algumas das falhas mais notórias desta compilação. Mas “Finally Enough Love” será um registo pelo menos mais completo da sua carreira que o anterior “Celebration”, mesmo que em formato remix – afinal de contas, as suas digressões ao vivo, sobre as quais muito boa gente considera estar a sua maior força, começaram sobretudo ao virar da primeira década de carreira a serem espectáculos conceptuais, repletos eles próprios de reinterpretações sucessivas dos seus êxitos.