Doclisboa 2024: “Diary Road: Bruce Springsteen and the E Street Band
No final deste “diário”, diz Bruce Springsteen: “estou há 50 anos nisso, é tarde demais para parar!”. Sorte a dele e dos seus músicos da E Street Band, cuja maioria os acompanha há cinco décadas e apenas dois faleceram (e serão constantemente evocados) pelo caminho.
“Road Diary” traz muita música executada durante a “tour” pelo hemisfério norte no ano passado, enquanto num âmbito mais filosófico fica com o espectador uma melancólica reflexão sobre… a morte. A vida, por seu lado, surge manifesta na paixão pela música e pela impressionante longevidade saudável do “Boss”.
A linda citação de Jim Morrison guardada para os créditos finais explica o que está em causa: “O great creator of being / Grant us one more hour to perform our art and perfect our lives”. Numa entrevista, Springsteen ter finalmente encontrado o eixo sobre o qual giraria todo o projeto. “Road Diary” é sobre permanência, sobre enganar a morte até quando for possível, sobre a impossibilidade de abandonar o palco.
Alguns momentos são particularmente tocantes: “Last Man Standing”, por exemplo, aparece contextualizada e a sua letra ganha outros contornos. Por outras palavras, baseia-se numa foto de Springsteen com os seus primeiros comparsas de aventuras musicais, nos longínquos anos 60. Dos cinco garotos da foto, só Springsteen ainda está vivo.
No geral, no entanto, há mais alegria do que tristeza: as performances energéticas, intercaladas com observações dos seus músicos, de pessoas ligadas à sua trajetória e testemunhos de fãs – reúne o compêndio entre o “folk”, o “rock” e o “rhythm & blues” que fornam o ponto central da sua carreira.
O documentário de Thom Zimny, em que pese alguma hagiografia calculada de um realizador que também é amigo do cantor, traz os gigantes concertos em arenas, a alegria da audiência, o empenho da sua banda enorme onde se sobressai um festim de sopros, teclados, percussões, guitarras – e particularmente Steven Van Zandt, que ironiza o facto de lhe ter sido atribuído, “com um atraso de 40 anos”, o título de “diretor musical”.
Springsteen não cita, mas há outro momento de Jim Morrison que caberia bem aqui: “When the music is over… turn out the light… (…) Music is your only friend… until the end…”.