Com filme sobre o 25 de abril, arranca nesta quinta-feira (17/10) o Doclisboa

Com filme sobre o 25 de abril, arranca nesta quinta-feira (17/10) o Doclisboa

Outubro 14, 2024 0 Por Roni Nunes
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A 22ª segunda edição do festival decorre entre 17 e 24 de outubro e tem como espaços principais os cinemas São Jorge e Ideal, a Cinemateca Portuguesa, a Culturgest e a Casa do Comum. Confira aqui um Top 10 sobre filmes para ver no festival.

O cinema português dá o tom de abertura da nova edição do festival: 50 anos depois do 25 de abril a cineasta Luciana Fina revisita as imagens da época – passando pelas rebeliões estudantis, pelo PREC, pela opressão do salazarismo e da PIDE e o processo de descolonização. Filmes lusitanos vão perpassar a variedade das secções do certame – entre os quais o novo trabalho de Cláudia Varejão, “Kora”, curta-metragem sobre mulheres refugiadas a viver em Portugal, de André Gil Mata (“Sobre a Chama de Candeia”) e Fernando Vendrell – que revisita o enorme trabalho feito em Timor-Leste do antropólogo Ruy Cinatti (“O Voo do Crocodilo – a Timor de Ruy Cinatti”).

Dos muitos cineastas consagrados a passarem pelo festival, Oliver Stone promete as controvérsias do costume com “Lula”, Abel Ferrara faz um sobrevoo sobre a Ucrânia invadida com leituras de poemas por Patti Smith em “Turn in the Wound”, enquanto no mesmo território Sergei Loznitsa narra a luta do seu povo para resistir aos avanços russos em “The Invasion”. 

Não muito longe dali, a forma como o capitalismo sucedeu o fim do totalitarismo na Romênia aparece em “Eight Postcards from Utopia“, de Radu Jude, enquanto Eryk Rocha visita o universo indígena em “A Queda do Céu” e a outro brasileiro, André Novais de Oliveira, cabem as honras de encerramento com “O Dia que te Conheci”. Já Mati Diop ganhou o Urso de Ouro em Berlim com o tema das devoluções de países europeus aos africanos em “Dahomey” e Harmony Korine traz um vistoso aparato experimental em “Aggro Dr1ft”.

A seção “Heart Beat” é sempre das mais apelativas, trazendo como habitualmente um coquetel de música (filmes sobre os Blur, Bruce Springsteen, Peaches, Pavement, Devo, Luiz Melodia e os exercícios do português “Ressaca Bailada – Filme Concerto” e “Before It’s too Late”, de Mathieu Amalric), poesia (além do já citado filme de Ferrara, há “Ricardo Aleixo: Afro Atlântico”, sobre o poeta brasileiro), fotografia (obras sobre Guido Guidi e Ruy Cinatti), moda (“High and Low – John Galliano) e cinema – aqui com trabalhos sobre François Truffaut, Hayao Miyazaki, Jacques Demy e Robert Kramer. Fora da seção, há mais arte – mais especificamente literatura em “If I Fall, don’t Pick me Up”, sobre Samuel Beckett, e “Duras et le Cinema”, abordando a relação da icónica escritora francesa com a sétima arte.

Destaque ainda para a retrospectiva dedicada ao cineasta Paul Leduc. O cineasta mexicano, falecido em 2020, uniu política, história da América Latina e experimentalismos diversos em seus filmes. Entre estes, destaque para a sua estreia, “Reed: Insurgent Mexico”, reconstituição da passagem de John Reed pelo país antes de rumar para a Rússia e escrever o seu clássico “Os Dez Dias que Abalaram o Mundo”, para o seu filme mais famoso, “Frida, Still Life”, sobre a famosa pintora, e “Cobrador. In God We Trust” – onde o destaque vai para outro escritor, o Rubem Fonseca, um dos grandes nomes da literatura brasileira. Leduc fez também uma trilogia com filmes musicais e sem diálogos sobre temas diversos, como “Barroco”, abordagem não tradicional baseada em Alejo Carpentier sobre a Revolução Cubana , “Latino Bar”, sobre os povos africanos e indígenas do México e “Dollar Mambo”, sobre a invasão americana do Haiti.