“The Last of Us” e o “beijo da morte”: origem “fúngica” dos “zombies” garante a diversão
A série da HBO avança a 29/01 para o seu terceiro episódio.
Naquele que talvez seja o grande momento dos dois primeiros episódios da série iniciada em 15/01, um “zombie” de rosto desfigurado avança para uma vítima em potencial; esperam-se mordidas selváticas e os habituais jatos de “ketchup”, mas este tem hábitos mais refinados: aproxima-se e espeta um beijo – provavelmente um dos mais nojentos alguma vez registrados.
Produzir qualquer coisa com “zombies” e mundos distópicos a estas alturas exige uma soma mais avultada de coragem do que a de dólares postos à disposição do departamento de “marketing” para viabilizar junto do público o empreendimento.
De qualquer forma, os riscos hão de ter sido calculados algures entre o enfado relativo do público para estes dois artifícios, o sucesso do jogo que inspirou a série e as eventuais possibilidades de sugerir algo novo.
Novo é uma palavra demasiado forte para estas andanças que começam com uma epidemia, avançam para a selvageria e, depois de um salto de 20 anos, vão encontrar os sobreviventes governados por uma orbe totalitária às voltas com rebeldes. Mas antes do espectador pensar que já viu demasiado disto entra em cena… o Cordyceps.
A estrela da companhia, o “cordyceps”
Neil Druckmann, um dos criadores do jogo que deu origem à serie (desenvolvido a partir de 2009 e lançado em 2013) inspirou-se num documentário da BBC que apresentava um fungo que afetava majoritariamente os insetos. Uma vez apossando-se das suas funções motoras e forçando-as a cultivar novos fungos. Estes fornecem ainda outro curioso elemento para a ficção: os infectados partilham uma espécie de conexão física e a sequência de uma “colónia” de “zombies” “pregados” ao chão é de relevo…
Depois de, na multidão de fantasias do cinema os seres humanos já terem sido atacados por praticamente todo o tipo de criaturas vivas (e mortas!), talvez faltassem, efetivamente, esses seres que vivem à sombra de vírus e bactérias no castelo da fama do mundo da microbiologia.
De resto, o jogo é tão conhecido por ser focado numa história e na relação entre os protagonistas (um homem que tem que manter em segurança uma adolescente que parece imune aos fungos) que quase aparece pronto para um filme – ou, neste caso, uma série. Pedro Pascal e Bella Ramsey, ambos tendo participado em diferentes momentos da “Guerra dos Tronos”, são os protagonistas.
O informático português Luís Pinto, que a dado momento deu uma contribuição para a construção do jogo, em 2012, explicita o conceito como muito mais do que uma história de “zombies”: “…ao ser um enredo sobre nós, humanos, é preciso perceber que os homens falham , por ganância e egoísmo, por incapacidade ou azar. E pelo meio tentamos sobreviver. Não há heróis neste jogo” (revista Bang, n. 32).
Até agora a audiência tem sido entusiástica e a HBO já anunciou uma segunda temporada.
Confira também: “O Pálido Olho Azul”, da Netflix.