Revisitando 1990: “Miller’s Crossing”

Revisitando 1990: “Miller’s Crossing”

Julho 7, 2023 0 Por Roni Nunes
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Os recém consagrados irmãos Coen também se interessaram pelo mundo do crime em 1990 de uma forma nostálgica e evocativa. Neste ano Coppola, Scorsese e Abel Ferrara também criaram histórias dentro deste universo – mas enquanto estes recuavam os seus enredos até, no máximo, aos anos 70, “Miller’s Crossing” situava-se décadas antes – e, talvez por isso, apresente uma visão a tempos melancólica deste universo.

No centro da história está um criminoso muito refinado Tom (Gabriel Byrne), conselheiro e estrategista de um poderoso gângster. Ele é espancado muitas vezes durante o filme (ele é o cérebro, não o físico, para além de trazer o fetiche dos Coen por falhados – neste caso um jogador inveterado que nunca ganha) e onde todas as redes de desastres e matanças tem no centro a pouco virtuosa Verna, vivida por Marcia Gay Harden. 

É por causa dela que o chefe mafioso Leo (Albert Finney) protege o irmão (um escorrediço John Turturro) contra outro líder mafioso (Jon Polito) – o que levará à uma guerra total pela cidade. Mas, principalmente, é ela que, sendo amante de Leo, arruina a vida de Tom – um homem vivendo as muitas encruzilhadas sugeridas pelo título e acabando por recusar todas as possibilidades. 

Bem ao gosto dos Coen, Tom é um homem que aposta no errado quando tudo podia estar certo. O chapéu que levita na floresta sobre os melancólicos acordes de Carter Burwell durante a abertura, percorrerá todo o filme, eventualmente representando o seu empenho em agarrar a sua própria identidade diante as encruzilhadas múltiplas (matar ou não matar, escolher um lado da guerra, investir no relacionamento ou não) que se lhe apresentam.