O “rock’n’roll” entra para a História: Bill Haley e “Rock Around the Clock”

O “rock’n’roll” entra para a História: Bill Haley e “Rock Around the Clock”

Agosto 28, 2022 0 Por Roni Nunes
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Em abril de 1954 o cantor Bill Haley, então já com alguns bons anos de estrada no meio musical, embarcou num “ferry” com os seus músicos num porto da Filadélfia. A viagem os levaria a Nova Iorque, onde lhes aguardava uma sessão no Pythian Studios, mas por pouco tal efeméride nunca aconteceu: o barco que que conduzia Haley e os “seus cometas” ficou algumas horas atolado num banco de areia!

O incidente é ilustrativo dos destinos da música que revolucionaria a música popular quase um ano depois: atolada num lado B, foi só quando apareceu nos créditos do filme “Blackboard Jungle”, em fevereiro de 1955, que “Rock Around the Clock” virou a América de cabeça para baixo e introduziu no “mainstream” a febre do “rock’n’roll”. Ancorado no poderio da indústria cultural “yankee”, o fenómeno atravessou mares e fronteiras e preparou o mundo para o que viria a seguir.

A canção pode não ter tido grande repercussão em 1954, mas quando a produção do seríssimo filme de Richard Brooks sobre delinquência juvenil andava à procura de algo representativo do que os jovens andavam a ouvir, o “single” constava entre os discos de Peter Ford, filho do protagonista, Glenn Ford. 

A enorme influência do filme levou “Rock Around the Clock” ao posto de primeiro clássico do “rock’n’roll” a atingir o número um das paradas – abrindo caminho, para desespero de muitos e deleite de outros, para esta música cheia de ritmo, de energia e carregando em si um perigoso elemento revolucionário que poderia subverter os costumes da juventude americana.

Queda da escada

Facto é que Haley e os seus músicos chegaram ao estúdio, mas estes não eram tempos para preciosismos: tiveram direito à gravação em um “take” – mas, por razões controversas, uma segunda execução foi feita – segundo o pianista Johnny Grande em função de um erro do baterista na primeira versão. Facto é que Sammy Davis Jr. já esperava do lado de fora para a sua vez de entrar no estúdio…

Quanto à música, numa época onde todo mundo “copiava” todo mundo, a canção é bastante aproximada de “Move it on “, lançada por Hank Williams em 1947, mas, de qualquer forma, trazia entre os diferenciais o solo de guitarra de Danny Cedrone. Este, aliás, teria uma queda fatal de uma escada dois meses depois e não viveria para ver o sucesso enorme da música para a qual deu uma preciosa contribuição.

Bill Haley, a estas alturas um experiente homem dos palcos e iniciada nas lides do “country & western”, já andava e perseguir ritmos há tempos – e fica-lhe o crédito de ter emplacado o primeiro “hit” do “rock’n’roll” no Top 20 da Bilboard, um ano antes, com “Crazy Man, Crazy”. Logo a seguir, acertaria novamente com uma “cover” de Big Joe Turner, “Shake Rattle & Roll” e continuaria no “mainstream” por mais alguns anos até que passa viver dos concertos nostálgicos da sua era de ouro. O cantor faleceu em 1981.