“O Pálido Olho Azul”: filme da Netflix convoca Poe a investigar um crime

“O Pálido Olho Azul”: filme da Netflix convoca Poe a investigar um crime

Janeiro 22, 2023 0 Por Roni Nunes
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The Pale Blue Eye (pt. “Os Olhos de Edgar Allan Poe” / br. “O Pálido Olho Azul”) está disponível na rede de “streaming”.

O nome de Edgar Allan Poe continua a ecoar nos imaginários diversos dos contadores de histórias. Aqui ele surge, a exemplo de outros filmes, como personagem – evocando a sua passagem (real) pela Academia Militar.

Apesar do título extraído de um poema fictício (recitado no filme) que invoca, no entanto, o caráter notoriamente mórbido do autor americano, o escritor surge mais no seu aspeto de criador de grandes enigmas envoltos numa lógica precisa do que no seu fascínio pelo macabro (em que pese ter convidado a sua amada para um agradável encontro romântico… no cemitério!).

Assim, é mais o Poe (vivido pelo ator Harry Melling, o Dudley Dursley da série “Harry Potter”) detetivesco de “Os Crimes da Rua Morgue” e decifrador de enigmas de “O Escaravelho de Ouro” que é encontrado pelo alcóolico e reformado Landor (Christian Bale) num bar (claro) e convidado por este a ajudá-lo na investigação de um assassinato dentro da Academia. Segue uma sombria história de corpos desmembrados, violações e cultos satânicos.

Enquanto as redes de “streaming” põe em causa o cinema em sala, The Pale Blue Eye revela que há realmente pouco que a televisão não possa oferecer. Ao contrário do que os detratores poderiam sugerir, pelo bem e pelo mal o filme está longe de ser um mero produto formatado (e os filmes comerciais de Hollywood não o são?) e, munido de uma fotografia “funérea” determinada a construir um ambiente atmosférico e pesado a custa de muita neve e exteriores soturnos e um ritmo pausado e meticuloso, distancia-se muito do “fait divers” mediano.

A partir daí, basta somar a oferta de um “cast” estelar (além de Bale há Gilliam Anderson, Timothy Spall e Toby Jones num projeto que dá-se ao luxo de “gastar” Charlotte Gainsborugh e um irreconhecível Robert Duvall em personagens absolutamente descartáveis), para perceber a grave crise do cinema adulto nas salas.

O reverso da medalha acaba por ser não o seu caráter televisivo, mas problemas de fluidez e construção de personagens por parte da Scott Cooper (responsável por guião e realização e que trabalha com Bale pela terceira vez depois de Out of the Furnace – br: Tudo por Justiça, pt: Para Além das Cinzas e HostilesHostis) que tornam o filme desnecessariamente arrastado e, em certos momentos, desinteressante. O “twist” final, no entanto, é bastante interessante e os últimos minutos compensam a longa viagem.

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