O melhor do “death metal”: 5 álbuns essenciais

O melhor do “death metal”: 5 álbuns essenciais

Dezembro 10, 2024 0 Por Roni Nunes
Partilhar

Houve uma altura, na ensolarada Flórida, que um grupo de músicos não se sentia muito inspirado pela nossa maior estrela e empenhou-se com uma fúria desconcertante e uma velocidade técnica alucinante pela reino das trevas: fetiche por apodrecimento, cadáveres, condenação ao inferno e com um apreço não propriamente grande pela “decadente” raça humana enfeitaram os seus devaneios. Um dos seus pilares de sustentação, o Cristianismo, ou não merece ou respeito ou lhe fica reservado um ódio profundo – com Satanás muitas revivendo dos seus píncaros imortais para reinar sobre os vivos. 

DEATH “Scream Bloody Gore” (1987)

O convite de uma banda chamada “Morte” em “Life Denial” é simples: “bem-vindo a um mundo de dor, morte e desespero”. “Scream Bloody Gore” foi dos primeiros a dar a “boa-nova” do “death metal” com o devido nível de brutalidade musical – ainda que as letras simples sobre “zombies”, cadáveres etc. pertencesse mais ao “over the top” dos filmes de terror do que à austeridade que atingiria a aeguir (no “black metal” norueguês ou nos Cannibal Corpse, por exemplo). Ainda assim algumas das peripécias deste último são antecipadas em coisas como “Torn to Pieces”. É de adivinhar que hoje em dia seria mais chocante expressões de fúria juvenil como as de “Mutilation” – “Eu celebro a morte de um paneleiro, desgraça humana”. A hecatombe sonora celebra a transição já feita do “thrash”, naquele que é considerado o primeiro álbum de “death metal”. 

MORBID ANGEL “Altars of Madness” (1989) 

Sob alguns aspetos, o álbum mais impressionante desta pequena introdução – um banho sensacional de técnica, velocidade inacreditável, variações alucinantes e até refrões e “grooves”. Os solos dissonantes dos guitarristas Richard Brunelle e Trey Azagthoth, segundo este último, foram feitos através de um posicionamento aleatório da mão na guitarra, sem uso de escalas melódicos. A ideia será, obviamente, provocar o caos. Menos dedicado a infernizar os crentes que o Deicide (ainda assim apresentam várias sentenças, como “Blasphemy” – “Deus das mentiras e ganância / Deus da hipocrisia / Nós rimos do seu filho bastardo”), os vocais de David Vincent vociferam sobre um mundo de desgraças generalizadas, de praga, sangue e agonia – para concluir, em “Damnation”, que “Deus chora e volta as suas costas / é a hora certa para destruir o mundo”.

OBITUARY “Cause of Death” (1990)

Álbum mais marcado pelo “thrash” e certamente muito menos envolvido em bater os recordes dos músicos mais rápidos do “Leste” (neste caso, em mais uma banda da Flórida). Com longas seções instrumentais “Dying”, por exemplo, é musicalmente paradigmática – com a sua diversificada estrutura.  Essas dinâmicas são bastante mais variadas que os seus temas – inevitavelmente uma coleção de pequenos trechos dedicados a salutar gosto por fazer escorrer sangue e morte, com especial apetecência por palavras derivadas de “apodrecimento”, pela voz icónica de John Tardy. A banda nunca saiu do registo: no ano passado “Dying of Everything”, mais de 30 anos depois, traz os mesmíssimo assuntos.

DEICIDE “Legion” (1992)

Mais próximo do Morbid Angel, a combinação entre riffs intricados e mudanças abruptas de tempo reflete uma evolução no death metal técnico, sem abrir mão de efeitos de estúdio – muito evidentes nos vocais de Glen Benton, por exemplo, e com efeitos particularmente sinistros em coisas como “Satan Spawn, the Caco Daemon”. A banda cujo nome significa literalmente “matar um Deus” parece firme nos seus nobres propósitos: aversões sociais variadas os levaram ao terreno das odes a Satanás, competindo com os noruegueses do “black metal”. Assim, entre invocações de velhos espíritos pagãos (malignos, claro), espraiam-se com uma liturgia ininterrupta pelo álbum flechas como “Em nome de Satanás eu condeno essa imagem de deus” e “vá se f* o seu deus serão as minhas palavras finais” e “Decapitar o filho nazareno”. Na última faixa, “Revocate the Agitator”, “boas notícias”: “todos os cristãos estão destruídos” e “os satânicos rejubilam”.

CANNIBAL CORPSE “Tomb of Mutilated” (1992)

É possível que quando foi lançado tenha sido o álbum mais violento alguma vez produzido – uma devastação de acordes dissonantes, ultra velocidade e as letras mais gráficas passíveis de serem encontradas no mercado. Ou não seria 1992 um ano onde abundavam “poemas” como “Addicted to Vaginal Skin” – sobre a história, narrada em primeira pessoa, de um assassino necessitado de beber sangue de vaginas mutiladas… A partir daí, todos os limites estão abertos e o resto, claro, não fica por muito menos. O facto de ser pouco inteligível dados os vocais sinistros de Chris Barnes, outra característica que impressiona, pouca importa numa das maiores paredes de brutalidades sonoras já construídas – sem “grooves”, melodias ou qualquer sintoma de delicadeza.