O longo cortejo de loucuras de Ozzy Osbourne

O longo cortejo de loucuras de Ozzy Osbourne

Dezembro 29, 2024 0 Por Roni Nunes
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Na área musical, vale lembrar uma das boas edições no mercado este ano – neste caso “Eu Sou o Ozzy – a Autobiografia”. pela editora Narrativa em 2024.

A contracapa entrega parte do que se encontra por aqui. Diz Ozzy Osbourne:  “As pessoas perguntam-me como é que ainda estou vivo e não sei o que dizer (…) A maior parte da história não vai ser bonita. Fiz algumas coisas más no meu tempo. Mas não sou o diabo. Sou apenas John Osbourne: um miúdo da classe trabalhadora de Aston, que deixou o seu emprego na fábrica e foi à procura de um pouco de diversão”.

“Um pouco de diversão” acaba por ser um belo eufemismo para o enorme desfile de loucuras que desfilam pelas páginas da sua autobiografia – originalmente lançada em 2009 – isso, claro, dependendo do que cada um define como “diversão”. Às tantas e apesar da obra indelével que ele construiu em termos artísticos, fica-se com a ideia que Ozzy tivesse passado mais tempos sóbrio as histórias que ele aqui conta poderiam dar mais detalhes sobre o processo criativo do Black Sabbath e da sua própria carreira-solo. Mas se o tema é “diversão”, isso não falta nas 400 páginas do livro – onde sobressaem-se uma boa dúzia de enredos hilariantes – entre outros trágicos, e a narrativa de um homem que não se leva, de todo, muito a sério. 

Como disse, ele cresceu na classe trabalhadora de uma cidade satélite de Birmingham, mais um dos enormes e cinzentos centros urbanos da pátria da Revolução Industrial. O seu pai trabalhava numa fábrica à noite e a mãe em outra fábrica durante o dia. A partir daí, são muitas histórias: de como chegou a adolescente e não sabia ler corretamente (só depois dos 30 anos foi saber que era disléxico), os dias que na prisão por andar a roubar em lojas, o trabalho num matadouro e, sobretudo, a partir da audição de “With the Beatles” no auge da “beatlemania” pensar: “se eles são da classe trabalhadora e conseguiram, eu também posso”.

Claro que da ideia à concretização muitos anos se passaram – e, mesmo quando pareciam ter chegado “lá” (quando arranjaram um agente), Tony Iommi foi convidado para tocar nos Jethro Tull. E sem o genial criador dos “riffs” baseados no “trítono” (a história verídica: tratava-se de um “intervalo musical de três tons” que na Idade Média era evitado por acreditarem que ela invocava o Diabo!), nada feito. Para grande alívio, Iommi desistiu dos Tull, que era totalmente liderada por Ian Anderson, e voltou para um lugar onde tinha um papel criativo. Mas aprendeu uma grande lição com Anderson: se queriam alguma coisa tinha que ensaiar e tocar…muito!

Os Black Sabbath foram contratados pela razão mais inesperada: no final dos anos 60 livros “satânicos” reinavam nos “bestsellers” e nas bilheteiras do cinema (o nome da banda foi inspirado no clássico de Mario Bava que nenhum deles viu!). Posto isso, gravaram o clássico álbum de estreia num único dia. O resto (arte da capa, imagem etc.) foi uma das grandes jogadas de “marketing” da Polydor.

Osbourne narra um grande cortejo de loucuras e um alcoolismo e uma adição bastante arraigadas ao longo de 40 anos. Depois de ser expulso dos Sabbath em 1978, viria a ser salvo pela sua “manager” e futura esposa Sharon Osbourne – sob a gerência da qual iniciaria uma bem-sucedida carreira-solo iniciada em 1980 com “Blizzard of Oz”. Quem não conhece bem uma das histórias mais famosas do “rock” (a de que ele agarrou e mordeu um morcego em pleno voo) tem aqui todos os pormenores. Mas há mais: o Ozzyfest, o “reality show” baseado na sua família e um mundo de outras histórias que se devora rapidamente entre surpresas e gargalhadas.