Lógicas de Guerra, 1950-1953: Pyongyang, a cidade mais bombardeada do mundo
“…viver no pavor dos ataques dos B-29, incluindo a possibilidade de bombas atómicas, deixou nos norte-coreanos uma profunda e duradoura impressão. O governo nunca esqueceu a lição da vulnerabilidade da Coreia do Norte aos ataques aéreos e por meio século depois do armistício continuou reforçando suas defesas antiaéreas, construindo instalações abaixo do solo e, finalmente, desenvolvendo armas nucleares para assegurar que o país nunca mais se veria nesta posição novamente. O efeito psicológico de longo-termo sobre os norte-coreanos não pode ser subestimado: a guerra contra os norte-americanos deu-lhes um sentido coletivo de ansiedade e medo do mundo lá fora que durou muito além do final da guerra” (1).
A Guerra da Coreia é menos lembrada do que outros episódios sangrentos do século XX, mas em proporção a sua escala de selvageria . O seu momento crucial foi desempenhado pela Força Aérea americana, que despejou sobre a Coreia do Norte 623 toneladas de bombas (incluindo incendiárias, como “napalm”), quantidade superior a utilizada na 2ª Guerra Mundial no Pacífico. Algumas cidades foram inteiramente devastadas; a capital, Pyongyang ficou reduzida a escombros e apenas dois edifícios ficaram em pé.
Na zona rural, foram bombardeadas reservas de água, que inundaram áreas inteiras e arruinaram as colheitas. Muitos que não morreram das bombas pereceram de fome. E, para terminar, as tropas das Nações Unidas usaram a “política da terra queimada” ao abandonar um território já duramente castigado. Sorte mesmo os coreanos só tiveram o facto de não ter avançado o plano de uso da bomba atómica, a qual andou na mesa dos estrategistas por esta altura…
Dentro da lógica da Guerra Fria o conflito na Coreia era periférico, mas levado a sério. De um lado obedecia a estratégia expansionista da União Soviética de Estaline, que imediatamente após o lançamento das bombas atómicas que garantiram a rendição do Japão, invadiu a Coreia pelo norte. Arrancavam assim ao país nipónico 25 anos de domínio sobre a península.
Por outro lado, a doutrina Truman baseava-se, principalmente, na contenção do expansionismo soviético. A divisão do território a partir do paralelo 38, todavia, não impediu o início das hostilidades – que após três anos de indescritíveis massacres e misérias de todos os tipos terminou sem um vencedor. Os Estados Unidos posteriormente apoiaram a reconstrução da Coreia do Sul – enquanto chineses e russos o fizeram no norte.
(1) Charles K. Armstrong, The Destruction and Reconstruction of North Korea, 1950 – 1960, The Asia-Pacific Journal, 2010.