Literatura: Portugal começa o ano literário recheado de clássicos
Um dos maiores prazeres de quem aprecia livros é (re) descobrir aqueles que fizeram a grande História da literatura e Portugal começa o ano literário recheado de clássicos.
HENRY JAMES A Fera na Selva
Conto da última fase do escritor norte-americano que passou parte considerável da sua vida na Europa. Dois amigos encontram-se em Londres depois de dez anos – quando ambos relembram um segredo que ele partilhou com ela naquela altura: o de que, como espera um salto da fera, ele acreditava que algo avassalador lhe iria acontecer. O texto toma forma de uma triste alegoria sobre o peso das oportunidades perdidas, dos sinais não compreendidos e uma vida desperdiçada. Da Leya (chancela Dom Quixote).
FRANZ KAFKA Punições
Obra que reúne três contos de Kafka – mas onde se sobressai, obviamente, o magistral “A Metamorfose”. O primeiro, “A Sentença”, reúne uma estranha história onde um pai “condena” o seu filho à morte; no terceiro, “A Colónia Penal”, Kafka descreve, como uma frieza científica, a apresentação de um artefato de tortura por um Oficial a um Viajante numa ilha distante. Mas, é claro, está em “A Metamorfose” a grande delícia de “Punições” – ainda hoje um conto com grande impacto emocional na história de um caixeiro-viajante que acorda, subitamente, transformado num bicho monstruoso. Com diferentes camadas de leitura e de interpretação, com um pé no absurdo típico do realismo fantástico. Da Penguin Livros (chancela Cavalo de Ferro).
VICTOR HUGO Os Miseráveis
Um dos maiores portentos da literatura com narrativa clássica – onde uma infinidade de “subplots” fornece os mais variados caminhos para este grande contador de histórias. No centro do enredo estão as tristes figuras de Jean Valjean, um .., e a prostituta Fantine. De uma grandiosidade monumental, “Os Miseráveis” apanha a própria transição do Romantismo para o Realismo não só da carreira de Victor Hugo como da própria literatura francesa – em sintonia, aliás, com o que ia fazendo escritores como Charles Dickens do outro lado do Canal da Mancha. Da Saída de Emergência.
WILLIAM FAULKNER Absalão! Absalão!
O velho sul “yankee” (re) visitado por uma das suas maiores vozes – dono de uma espécie de “mitologia” que, ao mesmo tempo, presta atenção mas submerge personagens com os quais raramente simpatiza nesta paisagem que carrega o peso de escravatura, violência e decadência. O livro conta, na sua escrita elíptica e que não deixa nada fácil a vida do leitor, a vida de um agressivo e moral fazendeiro na segunda metade do século XIX. Da Leya (chancela Dom Quixote).
KURT VONNEGUT Matadouro 5
A única coisa de bom a sair das chacinas guerras mundiais foram grandes escritores a transformarem seus traumas em belos hinos pacifistas literários. Neste caso o americano Kurt Vonnegut debruça-se sobre o massacre de Dresden, um dos momentos mais infames do imperial concerto de atrocidades da 2ª Guerra Mundial e o qual testemunhou. Não sem usar humor no relato, é uma coleção de histórias trágicas que têm como ponto central uma visão radicalmente “anti-hollywoodiana” da guerra – aqui mostrada como um contínuo massacre de garotos na flor da idade. Da Penguin Livros (chancela Alfaguara).
LOUIS-FERDINAND CÉLINE Morte a Crédito
Impressionante e sensacional precursor de franco atiradores niilistas como Henry Miller e Charles Bukowski – mas, principalmente no caso deste último, ainda mais letal; não espanta as confusões que Céline arranjou com os seus pares ao longo das décadas de uma carreira que iniciou nos anos 20. Morte a Crédito narra as peripécias de um médico instalado num bairro miserável, que tanto atende quanto despreza a sua clientela paupérrima – ao mesmo tempo que filosofia e não tira conclusões propriamente otimistas nem isenta de asneiras sobre a vil humanidade. Da Porto Editora (chancela Livros do Brasil).
MACHADO DE ASSIS Histórias da Meia-Noite
O segundo livro do mestre, “Histórias da Meia-Noite” é, na verdade, uma reunião de seis histórias escritas para a revista A Família – curiosamente uma publicação destinada a um público feminino cada vez mais atento à leitura e ao “fait divers” na segunda metade do século XIX. A antologia foi publicada em 1873 e o título refere-se à uma expressão popular na altura, que significa algo como “histórias que não se devem levar muito a sério”. Aliás, essa é a indicação do próprio escritor no prólogo – apresentando os enredos que reúnem, como sempre, a sua acutilante visão sobre os diversos tipos sociais que caracteriza, não sem usar o humor. Da editora Narrativa.