IndieLisboa: as curtas da Boca do Inferno

IndieLisboa: as curtas da Boca do Inferno

Abril 30, 2023 0 Por Roni Nunes
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O festival decorre em Lisboa até 7 de maio e a seção Boca do Inferno, das mais narrativas do festival, é dedicada a filmes de terror ou coisas muuuito bizarras…

Paz e sossego

A mente pode desejar a paz e o sossego que entender, mas nada disto valerá se o corpo não quiser colaborar. No francês “Creuse” pode-se adivinhar a vida organizada e ritualizada de um pequeno-burguês – o qual aluga uma casa na floresta onde “nada se ouve”. Mas então ele começa a ouvir o seu próprio corpo e só um mergulho nas entranhas o poderá restituir a paz.

“In the Flesh” é bastante mais histriónico e movimentado e a busca de sossego por uma mulher que apenas quer se masturbar também enfrenta contrariedades – particularmente quando os canos da banheira entopem e uma quantidade inusitada de esgoto jorra sobre a madame. Pior é quando um líquido negro começa a brotar de dentro dela mesmo – aparentemente a sua paz sexual está conectada com a ameaça de um violador na cave… 

“A Folded Ocean”

E viveram felizes para sempre

Todos os romances começam muito bonitos e, de diferentes formas, podem entrar num labirinto emocional muito difícil de suster no futuro. Mas isso é outro problema. Em “Honeymoon at the Cold Hollow” (foto de abertura) os problemas começam ainda na lua-de-mel, onde necessidades mais prementes (a fome, outra vez, do CORPO) se sobrepõem às juras de amor eterno. O cineasta Nat Rovit concebeu um filme à imagem e semelhança do terror da primeira metade dos 70s – e foi muito bem-sucedido.

Já “A Folded Ocean” é um prodígio de efeitos visuais para uma curta-metragem – e o problema na relação amorosa aqui é mais vasto: uma paixão que, literalmente, vai ao ponto da comunhão física total e aniquilação do indivíduo.

“The Diamond”

A solidão e o anonimato… isso não

No meio disto tudo talvez o Grande Troféu Bizarrice deste ano vá para “The Diamond” – que começa lindamente com um homem a forjar uma herpes labial para iniciar uma conversa “social”. Não é o suficiente e ele percebe que é com dinheiro que se arranjam amigos. Então descobre duas coisas: um brilhante e colorido diamante num buraco na floresta, e um homem suficientemente pequeno (as imagens do protagonista a treinar o minúsculo homem para vencer a claustrofobia é qualquer coisa) para conseguir entrar no buraco e retirar o diamante de lá. 

Por fim, em “Claudio’s Song” a luta contra a falta de atenção, mais precisamente o anonimato, adquire características mais trágicas depois que um “influencer” é sequestrado por uns gangsters. Mais trágico, pelo menos, até tudo se transformar num musical com direito a habitantes do futuro vestidos com uma sunga azul…