IndieLisboa 2022: João Botelho pretende “adiar a morte do cinema”

IndieLisboa 2022: João Botelho pretende “adiar a morte do cinema”

Abril 25, 2022 0 Por Roni Nunes
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O festival decorre entre 28/04 e 08/05 e tem como espaços principais os cinemas São Jorge e Ideal, a Cinemateca Portuguesa e a Culturgest.

João Botelho, um dos mais importantes cineastas portugueses, apresenta dois novos filmes em simultâneo na nova edição do IndieLisboa.

Um Filme em Forma de Assim

A forma como o próprio Botelho apresenta a experiência é esta: “Organizado como um sonho, estruturado como um musical e com textos, tanto ditos como cantados, que nos conduzem a situações inesperadas, caóticas e emocionantes, que tentam agarrar parte do que o inalcançável Alexandre O’neill nos deixou”. É a segunda vez que João Botelho adapta o escritor: a primeira foi em 1986 com Um Adeus Português.

Com o título a referir-se a um conto de O’Neill (“Um Conto em Forma de Assim”) mas também uma antologia de vários textos e formatos lançada inicialmente em 1980 e ampliada em 1985, tudo sugere uma colagem abstrata de imagens rebuscadas, sobressaindo-se dois “statements” de Botelho a propósito do projeto.

De um lado, trata-se de  “adiar um pouco a morte do cinema (…) desviado do seu maravilhoso trajeto para a coisa do negócio estúpido. Parece arrogância mas acho que os filmes de hoje são muita ‘história’ e pouco cinema”. Assim, o cineasta propõe uma obra onde “a liberdade expressiva esmaga a vigilância normativa.” Um outro ponto refere-se à natureza da abordagem, que contornam as armadilhas das biografias tradicionais.  “Detesto ‘biopics’. Raramente atingem a verdade”.

O Jovem Cunhal

O filme explora os primeiros anos da vida do político nascido em Coimbra, em 1913, e que cresceu em Seia até a família mudar-se para Lisboa nos anos 20. Excertos da sua vasta produção literária são encenados no filme.

Não será apresentado no melhor dos “timings” – já que o Partido Comunista Português (PCP) que Álvaro Cunhal fundou vive uma fase complicada depois de uma estrategicamente mal calculada recusa em apoiar a Ucrânia no atual conflito com a Rússia. Mais de 50 anos depois a forma de enquadramento não é muito diferente da do próprio Cunhal, que apoiou veementemente a invasão de Praga pela União Soviética, em 1968.

De qualquer forma, nada disso deve fazer esquecer a sua enorme relevância como um dos grandes da política portuguesa do século XX – especialmente pela assinalável tenacidade com que enfrentou a ditadura de Salazar e, entre prisões e torturas, manteve-se fiel aos seus princípios.