“Guerra”, o manuscrito perdido de Céline
O célebre e controverso escritor francês, ainda hoje dotado de uma escrita poderosa e acutilante que antecipou nomes como Henry Miller, Charles Bukowski ou William Burroughs, teve recentemente publicado um manuscrito que trazia o relato da sua participação na 1ª Guerra Mundial. O lançamento é da Porto Editora, chancela Livros do Brasil.
Se a consagração de Céline pertence a densas obras-primas como “Journey to End of the Night” e “Morte a Crédito”, esse relato cáustico da sua experiência na 1ª Guerra Mundial em nada perde em acutilância aos seus livros célebres. No meio do caos, de descrições quase físicas das dores advindas dos múltiplos ferimentos que sofreu, não está isento de um humor ácido, brotando quase surreal no meio de um relato onde persevera ao mesmo tempo as suas observações precisas sobre o absurdo da guerra.
Inédito durante quase 90 anos, o livro surgiu de um maço de 250 páginas encontrado entre os manuscritos do escritor e que estavam desaparecidos, para consternação do escritor que o havia escrito em 1934, desde a libertação de Paris, em 1944. Sessenta anos depois da sua morte, ocorrida em 1961, o livro é trazido a público e esclarece a participação dele na 1ª Guerra Mundial, assim como as suas consequências – as lesões físicas que o marcaram e surgem diversas vezes em seus livros e o seu horror à guerra. Apesar de escritos a mão, mesmo com rasuras, anotações e palavras riscadas ou ilegíveis, a grande maioria do material pôde ser compreendida e estritamente desvendada.
O livro começa com um monólogo sobre a guerra – começando pela explosão que lhe causou sérios danos na cabeça e no braço, a sua posterior internação num hospital francês no interior e uma série de personagens com quem foi se cruzando. Apesar da inspiração autobiográfica, há vastas extrapolações para a fantasia.