Gorbachev, A-ha, Lydia Lunch, Mark Cousins: 8 filmes para ver no Doclisboa
O festival decorre entre 21 e 31 de outubro e tem como espaços principais a Culturgest, os cinemas São Jorge, Cinema City Campo Pequeno, Ideal e a Cinemateca Portuguesa. Dentro da vasta programação CulturaXXI selecionou alguns dos títulos altamente promissores do maior evento lusitano dedicado ao cinema documental.
Famille FC André Valentim Almeida
O cineasta tem se debatido recorrente e criativamente sobre a identidade portuguesa: em From New York with Love (2011) estava contente com a sua pátria adotiva (Estados Unidos) e tinha um ponto de vista mais crítico; Dia 32 (2017), numa espécie de “enredo paralelo” ao tema principal, celebrava o retorno à casa e um olhar mais carinhoso para o país. Já no seu novo trabalho ele vai à França – onde a questão está subjacente à uma outra paixão nacional: o futebol. Em causa estão os cerca de 200 clubes amadores espalhados pelo território gaulês fundado por portugueses – e o que leva novamente à relação das dinâmicas culturais de diferentes países entrelaçados com a identidade lusitana.
Jane by Charlotte Charlotte Gainsbourg
Nascida do encontro de duas das figuras mais icónicas da cultura francesa dos 70s, Jane Birkin e Serge Gainsbourg, Charlotte Gainsbourg, após ela própria ter construída uma sólida carreira, investe num retrato íntimo de uma relação mãe e filha. Essa revisitação intimista convenceu quem andou pela última edição do Festival de Cannes.
A-ha The Movie Aslaug Holm, Thomas Robsahm (imagem de abertura)
“Experimente falar a algum produtor sobre uma banda ‘pop’ vinda da Noruega”, costumava brincar Morten Harket nos anos 80 – e já em tom celebratório depois do enorme sucesso de Hunting High and Low, lançado em 1985. As boas graças do público duraram até 1994, quando Memorial Beach representou o primeiro falhanço – seguido por um hiato. Voltariam mais tarde, com novos álbuns, ‘tours’ bem-sucedidas e um recorde de público que entrou para o Guinness (198 mil pessoas no estádio Maracanã, no Rio de Janeiro). Este filme acompanha a banda durante quatro anos, revelando bastidores e, inclusive, algumas querelas entre os membros.
Lydia Lunch – The War Is Never Over Beth B
Ainda nem havia esfriado o incêndio causado no “rock´n´roll” pelo “cocktail punk” de iconoclastia, retóricas inflamadas e cusparadas e já havia quem o quisesse demolir. O problema da “no wave” nova-iorquina, cuja curta vida foi inversamente proporcional à sua influência, com os “punks”, é que os mesmos acordes que construíram a história do “rock” estavam lá. Daí que os Teenage Jesus and the Jerks, o primeiro atentado liderado por Lydia Lunch, junto com os demais revoltados cooptados pelos sempre atento Brian Eno na coletânea No New York , estavam lá para fazer barulho – muito barulho. Isto foi o começo: a “cantora” sobreviveu pelas décadas afora escrevendo, fazendo filmes, discursos e, claro, música. O documentário recupera um pouco disto tudo.
O Bom Cinema Eugénio Puppo
No final dos anos 60 o Cinema Novo brasileiro ia dando os seus últimos suspiros enquanto uma nova geração surgia, como de costume, cheia de energia para demolir a anterior. Enquanto o “mau gosto” caía bem para os filmes que seriam batizados de “cinema marginal”, o título refere a um projeto académico de fazer cinema tecnicamente bem feito – um “bom cinema”. Assim, as escolas recém surgidas têm um papel importante como catalizadores de novos talentos que, a medida que se impunham, produziam um diálogo mais ou menos conflituoso com os seus famosos antecessores…
Você não Sabia de Mim Alan Minas
Na melhor tradição de Eduardo Coutinho depoimentos fortes e emocionantes obtidos no âmbito de uma instituição psiquiátrica no Rio de Janeiro aguardam quem se aventurar pela obra do cineasta Alan Minas. Proposto aos internos, com variados graus de comprometimento psíquico, que realizassem o seu próprio filme apresentando neles temas que escolhessem, o cineasta obteve um retrato da solidão e do sofrimento intenso que afeta os doentes psiquiátricos, não obstantes bastante lúcidos com relação ao ostracismo social, às suas memórias, aos seus desejos.
The Story of Looking Mark Cousins
O cineasta inglês radicado na Escócia dispensa grandes apresentações, embora a natureza mais pessoal deste The Story of Looking o situe num lugar diferente das suas famosas séries dedicadas à história do cinema. Surgido dentro do cenário de pandemia, o filme partiu do facto de que o realizador tinha milhares de imagens filmadas por ele ao longo de duas décadas – dispensando o factor locomoção para construir o projeto. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento de uma catarata num dos seus olhos o obriga à uma cirurgia e à uma reflexão do papel do olhar – que se estendeu da sua vida para uma história da importância da visão nas sociedades humanas.
Gorbachev.Heaven Vitaly Mansky
“Apenas imagine pelo que tive de passar”, diz um nonagenário Mikhail Gorbachev ao seu interlocutor no “trailer” do filme. Do paraíso ao inferno (ou vice-versa), é possível suspeitar o vórtice que envolveu à sua figura – desde a liderança da “perestroika” e de todo o processo que pôs fim a quase cinco décadas de Guerra Fria até o que isso efetivamente significou para o seu país. E aí a história é diferente e nenhum prémio Nobel o pode salvar: para muitos dos seus conterrâneos, ele precipitou a queda da influência geopolítica soviética e uma crise económica sem precedentes.
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