Festa do Cinema Italiano 2023: “Interdito a Cães e Italianos”
O título desta história de imigração passada na viragem do século XIX para o XX refere-se a uma inscrição encontrada na porta de um café, a certa altura, por uma família de imigrantes italianos pobres em França. A violência da frase não caracteriza apenas um momento histórico preciso (quando os italianos eram equiparados a cães no país vizinho) mas tem especial ressonância num país que desempenha um papel central na crise migratória do Mediterrâneo e que tem (mais uma vez) uma chefia de governo que lá chegou através do discurso xenófobo.
Dito isso, o realizador Alain Ughetto utiliza recursos do “stop motion” baseado em marionetes para reconstruir a duríssima vida das populações do Piemonte no final do século XIX – ao mesmo tempo mostrando que nem só da Sicília e da Calábria moveram-se massas de populações para outros países em busca de um lugar melhor. Não obstante a miséria, eles ainda tiveram que enfrentar o alistamento obrigatório para as matanças da 1ª Guerra Mundial, a gripe espanhola, a ascensão do fascismo e, no fim da jornada, a eclosão da 2ª Guerra Mundial.
Na boa tradição da comédia dramática italiana, capaz de rir do trágico ao mesmo tempo que exibir momentos de seriedade, a história gira em torno de um diálogo entre o realizador, cuja mão intervém a dados momentos para colocar as figuras no “sítio”, e a avó do cineasta, cujas memórias constituem o eixo narrativo das peripécias enfrentadas, especialmente, o marido Luigi e a sua enorme luta por uma vida melhor.