FEST/Espinho: a diversividade do cinema independente ao alcance de todos
Um retrato de um cinema independente vigoroso pode ser conferido no retorno ao formato tradicional do FEST de Espinho. Mas quem não pode se deslocar a agradável cidade litorânea do norte do país pode acompanhar a programação em casa mesmo: durante a duração do festival (04 a 11 de outubro), os filmes da Competição estarão disponíveis em formato “online” na plataforme Filmin. Os títulos da retrospetiva dedicada a Isabel Coixet serão exibidos na Culturgest, em Lisboa, e no teatro do Campo Pequeno, em Porto.
Já quem por lá passar pode conferir “masterclasses” com Irvine Welsh, a estas alturas o icónico escritor do livro que inspirou Trainspotting e que será um dos temas da conversa, Tony Grisoni, argumentista que já trabalhou com Terry Gilliam, consultora de cinema Dörte Schneider, o diretor de fotografia Tetsuo Nagata e o editor de som Eddy Joseph. Isabel Coixet também virá a Portugal.
Quem abre os trabalhos em antestreia nacional é The Divide, de Catherine Orsini. O filme fez parte da seleção oficial do último festival de Cannes e traz Valeria Bruni Tedeschi no protagonismo. O enredo tem como pano de fundo os protestos dos coletes amarelos que envolveram a França em 2018, assim como o cenário de um hospital onde dramas humanos diversos desenrolam-se.
Um dos mais singulares projetos a passar por Locarno este ano, o espanhol The Sacred Spirit, de Chema García Ibarra, encerra o festival. O projeto contrapõe uma atmosfera de seriedade, linguisticamente muito apoiada em planos fixos, para contar com um humor seco a história de um pequeno grupo de crentes na vida extraterrestre e nas abduções. Até aí o filme ficava-se pelo registo de algumas crenças malucas, não fosse entrar pela história adentro o drama de uma criança raptada.
Do cinema de género ao experimental
Das sete longas de ficção que fazem parte da Competição, fica o registo desde já diversificado como o próprio cinema europeu – mais a proposta mexicana The Civilian e a indiana Pebbles (imagem de abertura) . Esta, vencedora do prémio máximo no último Festival de Roterdáo, radiografa um drama familiar em meio a paupérria região de Melur, no sul da Índia, cuja aridez da paisagem, onde nem plantas nem gado sobrevivem, está em sintonia com a relação entre um homem alcóolico e a sua família – especialmente o filho.
Confins, mas na Europa, emolduram Mighty Ones, um registo entre a docuficção e o fantástico numa remota terriola de Espanha, enquanto no contemplativo Lamb as paisagens são as das montanhas islandesas para situar outro drama familiar onde o surreal irrompe lentamente na vida de um casal em luto.
Os centros urbanos assumem o protagonismo na guerra político-social-racial do “thriller” Enforcement, em Copenhagen, no claustrofóbico drama LGBT Poppy Field, ou Zero Fucks Given – onde talvez desde A Vida de Adéle, o filme que a consagrou, Adéle Exarchopolous não tinha um personagem tão relevante num filme forte. Por fim, outra das sensações de Cannes, The Civilian, apresenta um drama sobre uma mãe que decide procurar a filha sequestrada por um cartel de droga mexicano por seus próprios meios.
A Competição é completada por três documentários: Dear Future Children, sobre as mobilizações políticas dos jovens ao redor do mundo, Last Knights of the Right Side, que mergulha no mundo da extrema-direita polaca, e o belga A Way Home, de caráter mais pessoal, sobre uma vida marcada pelo exílio.