FEST/Espinho: a diversividade do cinema independente ao alcance de todos

FEST/Espinho: a diversividade do cinema independente ao alcance de todos

Outubro 3, 2021 0 Por Roni Nunes
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Um retrato de um cinema independente vigoroso pode ser conferido no retorno ao formato tradicional do FEST de Espinho. Mas quem não pode se deslocar a agradável cidade litorânea do norte do país pode acompanhar a programação em casa mesmo: durante a duração do festival (04 a 11 de outubro), os filmes da Competição estarão disponíveis em formato “online” na plataforme Filmin. Os títulos da retrospetiva dedicada a Isabel Coixet serão exibidos na Culturgest, em Lisboa, e no teatro do Campo Pequeno, em Porto.

Já quem por lá passar pode conferir “masterclasses” com Irvine Welsh, a estas alturas o icónico escritor do livro que inspirou Trainspotting e que será um dos temas da conversa, Tony Grisoni, argumentista que já trabalhou com Terry Gilliam, consultora de cinema Dörte Schneider, o diretor de fotografia Tetsuo Nagata e o editor de som Eddy Joseph. Isabel Coixet também virá a Portugal.

Quem abre os trabalhos em antestreia nacional é The Divide, de Catherine Orsini. O filme fez parte da seleção oficial do último festival de Cannes e traz Valeria Bruni Tedeschi no protagonismo. O enredo tem como pano de fundo os protestos dos coletes amarelos que envolveram a França em 2018, assim como o cenário de um hospital onde dramas humanos diversos desenrolam-se.

À espera dos ETs em “The Sacred Spirit”

Um dos mais singulares projetos a passar por Locarno este ano, o espanhol The Sacred Spirit, de Chema García Ibarra, encerra o festival. O projeto contrapõe uma atmosfera de seriedade, linguisticamente muito apoiada em planos fixos, para contar com um humor seco a história de um pequeno grupo de crentes na vida extraterrestre e nas abduções. Até aí o filme ficava-se pelo registo de algumas crenças malucas, não fosse entrar pela história adentro o drama de uma criança raptada.

Do cinema de género ao experimental

Das sete longas de ficção que fazem parte da Competição, fica o registo desde já diversificado como o próprio cinema europeu – mais a proposta mexicana The Civilian e a indiana Pebbles (imagem de abertura) . Esta, vencedora do prémio máximo no último Festival de Roterdáo, radiografa um drama familiar em meio a paupérria região de Melur, no sul da Índia, cuja aridez da paisagem, onde nem plantas nem gado sobrevivem, está em sintonia com a relação entre um homem alcóolico e a sua família – especialmente o filho.

Hilmir Snaer Gudnason e Noomi Rapace dão um temerário rumo à dor da perda em “Lamb”

Confins, mas na Europa, emolduram Mighty Ones, um registo entre a docuficção e o fantástico numa remota terriola de Espanha, enquanto no contemplativo Lamb as paisagens são as das montanhas islandesas para situar outro drama familiar onde o surreal irrompe lentamente na vida de um casal em luto.

Os centros urbanos assumem o protagonismo na guerra político-social-racial do “thriller” Enforcement, em Copenhagen, no claustrofóbico drama LGBT Poppy Field, ou Zero Fucks Given – onde talvez desde A Vida de Adéle, o filme que a consagrou, Adéle Exarchopolous não tinha um personagem tão relevante num filme forte. Por fim, outra das sensações de Cannes, The Civilian, apresenta um drama sobre uma mãe que decide procurar a filha sequestrada por um cartel de droga mexicano por seus próprios meios.

Adèle Exarchopoulos como hospedeira em “Zero Fucks Given”

A Competição é completada por três documentários: Dear Future Children, sobre as mobilizações políticas dos jovens ao redor do mundo, Last Knights of the Right Side, que mergulha no mundo da extrema-direita polaca, e o belga A Way Home, de caráter mais pessoal, sobre uma vida marcada pelo exílio.