Era uma vez na América “woke”: com centenas de filmes independentes, Sundance arranca a 19
Para já dois filmes ligados à história do “rock” apresentam-se como dos mais promissores títulos a circularem pelo Sundance Film Festival, que decorre em Salt Lake City entre 19 e 29 de janeiro. Será o retorno das sessões presenciais depois de dois anos de pandemia.
De deixar qualquer fã de “rock´n´roll” com água na boca, Squaring the Circle (The Story of Hipgnosis) traz Anton Corbjin a mergulhar na história de uma das mais icónicas produtoras de capas de álbuns de “rock” do mundo.
A empresa, fundada em Londres no final dos anos 60, foi catapultada para a fama a partir do “design” para nada menos que “Dark Side of the Moon”. A partir daí, trabalharam com meio mundo do topo do “rock” dos 70, não só sendo verdadeiros pioneiros no que (bem) mais tarde seria o mundo do Photoshop, como criando as mais diversas técnicas que os levariam a obter uma arte de grande quilate.
É Corbjin, ele próprio um fotógrafo e cineasta especialista nas lides “rockeiras” com telediscos e “biopics” (por exemplo trabalhos com os Depeche Mode e Control, sobre os Joy Division), quem vai buscar a história – conseguindo entrevistas com Roger Waters, David Gilmour, Jimmy Page, Robert Plant e Paul McCartney, entre vários outros… O projeto foi financiado pela Raindog Films, onde um dos comproprietários é Colin Firth.
Era uma vez, na América “woke”
O festival, criado em 1981 por Robert Redford, tem acentuado, a partir de 2018, uma forte tendência na programação onde se privilegia a representatividade sobre os filmes em si – sem que se questione o quanto a submissão compulsória da arte a demandas sociais (independente da justiça destas) não representa o seu enfraquecimento enquanto força transgressiva.
É nesta linha que surge a triste apresentação da sinopse do promissor Little Richard: I Am Everything, mais uma daquelas a transformar a História em uma narrativa de vítimas e malfeitores e que informa o leitor de que o filme “finalmente explode o ‘white washing canon’ da música popular americana”. Se há uma história onde o “‘white washing’, quando existe, é muito limitado, é na do “rock´n´roll – afinal qualquer compêndio histórico sempre referiu a enorme influência dos afro-americanos no “pop” e no “rock”.
De resto, sem nomes sonantes é difícil prever o que poderá sair das principais seções do festival e conseguir uma sólida carreira internacional – como, por vezes, decorre. Foi o caso de CODA, o vencedor dos Oscars 2022, que teve sua estreia no festival.
A programação espalha-se por seções como a competição doméstica e a internacional de filmes de ficção e documentários, para além das Premieres, da Next (dedicado a trabalhos mais experimentais) e da Midnight. Essa última contém em geral obras que pisam no fantástico – seja no terror ou na ficção científica. Está lá, por exemplo, o novo projeto de Brandon Cronenberg, com Infinity Pool e Alexander Skarsgard no elenco. De lembrar que Brandon conseguiu há anos um filme de bizarrice assinalável em se tratando da filiação (David Cronenberg) – o inclassificável Antiviral.