E no começo era o “blues”: Son House
Um dos grandes projetos do Cultura XXI é contar a longa história do “rock”. Um dos seus pontos de partida é, claro, o “country blues”, cujos mais antigos registos gravados surgem no final dos anos 20. Depois de Blind Lemon Jefferson, é a vez de uma espreitadela na obra de Son House.
Son House foi dos principais artistas do “country blues” do Delta a sobreviver para contar a sua história – já entrados os anos 60. House teve sessões de gravação comercial em 1931 e, para as investigações dos Lomax, no início dos anos 40.
Nos inícios nada o direcionava para os caminhos desta “música do Diabo”: Son House não só andava na igreja, como ainda pregava. Sua queda na má vida das “juke joints” aconteceu já perto do final dos anos 20 e o destino, literalmente, bateu à sua porta na forma de Charley Patton, outro dos grandes do Delta.
Son House apanhou literalmente boleia com Patton para rumar para a longínqua Grafton, quase na fronteira com o Canadá, para gravar as nove sessões que seriam os seus únicos lançamentos comerciais antes da sua descoberta nos anos 60. Com exceções destas, mais duas sessões de gravações ocorreram no início dos anos 40, com os indefectíveis Lomax.
As nove músicas gravadas por House não foram bem-sucedidas; uma década depois é visitado por Alan Lomax, que faz com ele duas sessões. Fora isso, retira-se da música e desaparece do mapa, só vindo a ser resgatado da vida de operário em 1964, quando é encontrado em Rochester, perto de Nova Iorque, a trabalhar numa estação de comboios
Entre aqueles que imploraram pela sua volta estava Alan Wilson, futuro guitarreista dos Canned Heat e que colaborou com Son House no álbum clássico mais tarde rebatizado como Father of Delta Blues – The Complete 1965 Sessions. A estas alturas o “blues” estava pronto para reinar nos anos 60 e House, a partir daí, já não pôde queixar-se da sorte. Ou, pelo menos, até o dia no qual caiu bêbado na neve e por lá ficou a congelar. Os danos nas mãos foram consideráveis e, depois disto, raramente voltou a tocar.