E no começo era o “blues”: Charley Patton

E no começo era o “blues”: Charley Patton

Fevereiro 14, 2022 0 Por Roni Nunes
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Um dos grandes projetos do Cultura XXI é contar a longa história do “rock”. Um dos seus pontos de partida é, claro, o “country blues”, cujos mais antigos registos gravados surgem no final dos anos 20. Depois de Blind Lemon Jefferson e Son House agora é a vez de uma espreitadela no “pai do Blues do Delta”, Charley Patton.

Se nos primórdios do “blues” são atribuídas retrospetivamente diversas “paternidades” e “maternidades”, das mais inquestionáveis será a de “pai do Delta Blues” para Charley Patton. Muitos anos antes da consagração da região do Mississippi no imaginário dos fãs, Patton foi dos primeiros a construir um corpo de composições originais que, para além de influenciar um sem-número de gigantes que vieram depois, ainda propunha perfomances entusiásticas, tocando com a guitarra nas costas e fazendo outros malabarismos.

Patton gravou 52 músicas para a Paramount entre 1929 e 1930, nas sessões em Grafton na mesma época que Son House, e em Nova Iorque pela Vocalion, em 1934. A maioria composições eram originais de “blues” e as letras versavam sob os mais variados aspetos da condição dos negros – desde a exploração e o racismo sistemáticos até as descrições das cheias que devastavam a região do Delta de tempos em tempos. Esse é o tema de umas suas músicas mais emblemáticas – “High Water Everywhere” – dividida em duas partes.

Como em muitos outros casos da música negra da altura, as suas gravações receberam uma limitada distribuição nacional. Como a longa lista de músicos influenciados por ele demonstra (Robert Johnson e Howlin’ Wolf são apenas alguns dos mais famosos), Patton era muito conhecido no Mississippi, mas as suas gravações ficaram esquecidas depois da sua morte – até, claro, todo o resgate do “country blues” iniciado a partir dos anos 50.

Charley Patton também assemelhou-se a outros “colegas” do “country blues” ao ter uma morte prematura, com 43. Ele sofria de problemas cardíacos congénitos, aos quais a vida errante, boémia e de parcos recursos também não ajudaram. Muitos anos depois e simbólico da preservação instável da memória da música negra, foi John Fogerty, dos Creedence, a financiar a instauração da placa sobre o local do seu enterramento. Isso só aconteceu em 1990…