E no começo era o “blues”: Blind Lemon Jefferson

Um dos grandes projetos do Cultura XXI é contar a longa história do “rock”. Um dos seus pontos de partida é, claro, o “country blues”, cujos mais antigos registos gravados surgem no final dos anos 20.

Não veio do Delta, mas do Texas o homem que abriu as portas para o “country blues” sair da sua habitual escala regional. Algumas cantoras vindas do “vaudeville” já tinham feito o seu trajeto nos anos 20 – década de uma nascente indústria musical de massas.

Mas Bessie Smith e Ma Rainey, para citar as mais famosas, pertenciam a outra linhagem – a de uma música urbana cruzada com outros ritmos. Para aquela que vai dar ao Delta, aos seus homens de guitarra e voz, e depois ao “rock”, interessa mais esse “songster” (designação para os cantores itinerantes de rua e de feiras) rude, vindo de longas perambulações pelos circuitos das “juke joints” (espaços onde os negros se reuniam à noite para cantar, beber e dançar) que começou a ser gravada em 1927.

Entre 1927 e 1930, Jefferson gravou 79 músicas. Foi uma aposta arriscada da Paramount: depois do sucesso de Mamie Smith em 1920, as gravadoras existentes saíram mundo afora à procura do pote de ouro através de vozes femininas que seguissem o caminho de Smith. O jogo aqui, no entanto, foi ganho: as gravações de Blind Lemon Jefferson foram extremamente bem-sucedidas – abrindo naturalmente as portas para outros homens, que povoariam os anos 30 com as suas guitarras acústicas.

Embora, na tradição dos “songsters”, o seu repertório fosse diversificado e não incluísse só o “blues”, pode-se iniciar com ele uma longa trajetória até o “rock’n’roll”. Nota curiosa, Jefferson também foi dos primeiros a ter uma morte misteriosa ainda muito jovem (29 anos) – mas, a par de teorias diversas, a causa parece ter sido mesmo um ataque cardíaco…