Da natureza do poder: avanços sociais com ditadura ou miséria com democracia? O exemplo de Fidel Castro

Da natureza do poder: avanços sociais com ditadura ou miséria com democracia? O exemplo de Fidel Castro

Julho 24, 2021 0 Por Roni Nunes
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É possível um país sobreviver economicamente sem uma classe empreededora e competitiva nos moldes capitalistas? É viável melhorar as condições gerais de vida de um povo negando-lhe a liberdade da expressão política? A História demonstra que, abandonando esquemas ideológicos simplistas, essas não são questões fáceis de responder.

Os primeiros anos da administração de Fidel Castro em Cuba são exemplares: depois de derrubar Fulgêncio Batista em 1959 e implementar um programa efetivamente revolucionário, Castro conseguiu ainda outra façanha – a de sobreviver física e politicamente à implantação de uma agenda radical.

E o seu programa era mesmo revolucionário: a sua reforma agrária, por exemplo, chegou a alienar terras da sua própria mãe! Investimentos maciços em educação e saúde gratuita, para além de um vasto programa de vacinação que causou uma redução impressionante da mortalidade infantil, foram outras obras.

Esse grande programa de apoio aos mais pobres era de raro interesse para os seus antecessores – invariavelmente ligados à máfia e aos seus negócios de droga, jogo e prostituição. Castro alienou brutalmente a própria organização criminosa dos seus empreendimentos (estes são credivelmente mostrados nos dois primeiros filmes de Francis Ford Coppola sobre a máfia, “Godfather I e II”). Um dos maiores líderes da máfia, Mayer Lanksy, o grande sócio de Lucky Luciano, chegou a dizer antes do fim da sua vida que “a revolução cubana o tinha arruinado“.

Mas, sem o apoio da União Soviética, que o fazia por óbvias razões estratégicas, teria o país sobrevivido economicamente sem a competição capitalista e o empreendedorismo? De resto Castro não era, certamente, um democrata – e nem escondia tal facto – afirmando anos antes de derrubar Fulgêncio Batista que a “revolução tinha de ser conduzida por um líder forte e não iria ser alcançada com base em comitês”.

O Brasil da mesma altura poderia fornecer uma comparação interessante: havia democracia, liberdade, grandes empresas e empreendedores; mas, ao mesmo tempo, uma vasta classe de pobres globalmente desassistida – facto que persiste até hoje.