Cinema, música, história: dez filmes para ver no IndieLisboa

Cinema, música, história: dez filmes para ver no IndieLisboa

Agosto 16, 2021 0 Por Roni Nunes
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O IndieLisboa arranca no próximo sábado (21/08) e estende-se até 6 de setembro. As sessões decorrem nos cinemas São Jorge, Culturgest, Ideal e na Cinemateca. Na nova edição também decorrerão sessões no jardim do Palácio das Galveias. Fiel aos seus eixos temáticos (cinema, música, história), Cultura XXI debruçou-se sobre a vasta programação para sugerir alguns títulos.

“A Távola de Rocha”

A TAVOLA DE ROCHA Samuel G. Barbosa (Director’s Cut)

Selecionado para o Festival de Locarno, o filme reflete sobre a obra de Paulo Rocha, considerado uma das maiores referências do Cinema Novo português despoletado nos anos 60. O realizador foi assistente de Rocha, falecido em 2012, durante os seus dez últimos anos de vida e propõe uma reflexão não isenta de afetividade. Segundo ele, as maiores qualidades eram o experimentalismo e a forma como dispunha das mais variadas ferramentas do cinema para inovar. Como complemento o festival exibe também Os Verdes Anos (1963), um dos mais reverenciados filmes de Rocha e da história do cinema lusitano.

HOPPER/WELLES Orson Welles (Director’s Cut)

Surge creditada a Orson Welles esta edição de uma longa conversa onde o cineasta faz o papel de entrevistador de Dennis Hooper. Em 1970 este estava no seu auge: com o sucesso massivo de Easy Rider, o ator era considerado o porta-voz de uma geração – e, por estas alturas, trabalhava no seu segundo filme, The Last Movie. Welles, o eterno génio proscrito de Hollywood, iniciava neste ano os trabalhos de The Other Side of the Wind (Hopper entrava como ator) – obra que só seria lançada a partir dos esforços de Filip Jan Rymsza em 2018. É o mesmo realizador, acompanhado do montador Bob Murawski, que transformou em pouco mais de duas horas as cinco de filmagens originais.

Shane MacGowan em “Crock of Gold”

CROCK OF GOLD: A FEW ROUNDS WITH SHANE MACGOWAN Julian Temple (Indie Music)

A estas alturas com um incrivelmente vasto catálogo de telediscos e documentários dedicados ao “pop/rock”, incluindo o seminal The Great Rock’n’Roll Swindle quanto ao que ao “punk” confere, Temple aponta os holofotes para Shane MacGowan, o líder dos Pogues. O cineasta disse ter incluído a palavra “round” no título por referência ao boxe: MacGowan, apesar de inusitadamente ter pedido ao realizador para fazer o filme, avisou logo que não daria entrevistas – o que transformou a execução do projeto numa luta. Assim, o cineasta, uma vez aceito o desafio, partiu para o uso da criatividade (incluindo animação) e entrevistas com muita gente – em especial um amigo de longa data de ambos, Johnny Depp.

THE SPARKS BROTHERS Edgar Wright (Indie Music)

A união entre o realizador do já quase mítico Shaun of the Dead com os enigmas dos Sparks parece ter despertado, de facto, faíscas. Dotados de uma vasta, enigmática e versátil carreira (“temos hostilidade a sermos chatos”, diziam os irmãos Ron e Russell Mael nos anos 70), eles aparecem cercados de entrevistas que, segundo se disse, tanto esclarece quanto o mantém o mistério. O filme culmina com a recente participação do duo em Annette, a parceria com Leos Carax que abriu a última edição do Festival de Cannes.

Ney Matogrosso em “Ney à Flor da Pele”

NEY À FLOR DA PELE Felipe Nepomuceno (Indie Music)

Uma boa hipótese para ouvir excelente música e ver videos que documentam a trajetória de um dos mais icónicos artistas brasileiros. Desde o desafio a um período negro da ditadura brasileira com as maquiagens e os figurinos dos Secos & Molhados a austeras e brilhantes performances como a execução de “As Ilhas”, música de Astor Piazolla, o filme insere trechos que permitem contextualizar a carreira do cantor. Entre os vários temas, o artista foi uma espéce de profeta de uma nova liberdade sexual.

THE SUMMER OF SOUL (Or, When the Revolution Could Not Be Televised) Ahmir “Questlove” Thompson (Sessão Especial – Filme de Abertura)

O realizador norte-americano recuperou imagens de um festival de música realizado no Harlem, durante seis fins de semana do verão, em 1969, para abordar o tema da preservação (ou falta dela) da memória da cultura negra. Diversos ícones da altura passaram pelo palco, reunindo milhares de frequentadores num parque do coração do bairro – entre eles Stevie Wonder, Nina Simone, B.B. King e Sly & The Family Stone. Thompson pega num evento, realizado a poucos quilómetros de Woodstock, que ficou incrivelmente esquecido durante 50 anos.  

“Paraíso”, de Sérgio Tréfaut

PARAÍSO Sérgio Tréfaut (Sessão Especial – Filme de Encerramento)

Sérgio Tréfaut, que viveu no Brasil até a adolescência, voltou ao país pouco antes da pandemia para fazer um filme nos jardins do Palácio do Cadete. O local foi o grande centro das decisões políticas do país até a mudança da capital para Brasília, em 1960. Agora virou museu e alberga uma quantidade de pessoas que circulam por ali a passeio ou para descansar. Entre estes, um grupo de idosos reúne-se para celebrar a música brasileira – samba, samba-canção, choro.

THE WITCHES OF THE ORIENT Julien Faraut (Competição)

Depois de dedicar-se ao tenista John McEnroe no seu filme anterior, o cineasta francês volta ao mundo do desporto e do universo de arquivo. Em causa estava a prestação impressionante da equipa de voleibol feminino do Japão nas Olimpíadas de 1966. Segundo Faraut, a imprensa ocidental dos anos 60 classificou a equipa como vítima de um treinador tirânico – algo que não batia certo. Quando reparou também que todas as atletas trabalhavam numa fábrica ligada à indústria têxtil, percebeu que tinha em mãos um grande material.

“Ladies of the Woods”

LADIES OF THE WOOD Claus Drexel (Silvestre)

Como em muitas grandes cidades, pacíficos e verdejantes parques, neste caso com um lago de cisnes, tornam-se à noite na casa de figuras marginais. Em Ladies of the Wood o cineasta alemão radicado em França aproxima-se do universo dos transsexuais do Bois do Bologne, em Paris – que partilham histórias e recebem os seus clientes. Um mundo de orgulho, sobrevivência e desespero – onde uma solidariedade de estilo tribal assegura a sua existência.

MÁ SORTE NO SEXO OU PORNO ACIDENTAL Radu Jude (Silvestre)

O grande vencedor do Urso de Ouro na última edição do Festival de Berlim, traz o cineasta romeno atirando provocações em torno da hipocrisia reinante. O filme conta a história de uma professora subitamente ameaçada quando uns videos de sexo amadores vão parar à internet. Os pais dos alunos pressionam-na para se demitir, mas ela está decidida a não se render. Dividido em três partes (“Irracionalmente conectadas“, segundo Jude), termina por ser uma sátira de situações bem reais que inspiraram a escrita do argumento.