Cáustico para ser comédia, anárquico para ser drama: “Os Predadores”
O filme de estreia do italiano Pietro Castellito estreia-se esta semana (03/03) nas salas portuguesas, depois de ter sido exibido nas respetivas Festas do Cinema Italiano de Portugal e Brasil. Os Predadores venceu o prémio de Melhor Argumento na edição de 2020 do Festival de Veneza e Castellito levou ainda o David di Donatello de Melhor Realizador – Revelação.
Num filme cáustico demais para ser uma simples comédia, anárquico demais para entrar na categoria “drama” – Castellito esforça-se para conferir dinamismo, variando ângulos de câmera e orquestrando uma curiosa montagem sonora que irrompe de forma surrealista pela narrativa nos seus primeiros planos.
Os diversos enredos giram em torno de duas famílias. Numa delas, a de “baixo” estrato, há um homem que possui uma loja legalizada de armas, enquanto ele e o irmão escondem outras para o sinistro tio – aparentemente da máfia. O seu almoço de aniversário é cheio de gritos, piadas rudes e partidas macabras.
A outra família tem um médico, metido num casamento falhado com uma cineasta à beira de um ataque de nervos. O filho, vivido pelo próprio Castellito, é o fruto “psicótico” desta burguesia sem rumo: obcecado por Nietzsche, torna-se num potencial terrorista – embora bastante trapalhão. Suas discussões filosóficas e atitudes grotescas entrelaçam-se com as da prima “rapper”, outro membro da nova geração. É ela quem aparece no poster do filme a fazer o famoso gesto dos dedos e enderaça, na outra celebração de um aniversário – esta num restaurante chique – uma violenta composição sua para escândalo dos mais velhos.