Cannes 2021, filmes: fantasias com acento feminino dominam prémios das seções paralelas

Cannes 2021, filmes: fantasias com acento feminino dominam prémios das seções paralelas

Julho 18, 2021 0 Por Roni Nunes
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“Unclenching the Fists”, vencedor d’A Certain Regard

A edição de Cannes 2021 chegou ao fim. Alguns dos mais de 100 filmes exibidos nas diversas seções do festival têm sido sumariamente apresentados aqui – já que o festival adianta parcialmente as agendas dos principais festivais e circuitos de exibição pelo resto do ano. Seguem abaixo a apresentação dos vencedores da d’A Certain Regard, da Semana da Crítica e os destaques da Quinzena dos Realizadores.

UNCLENCHING THE FISTS (Kira Kovalenko, A Certain Regard)

A Ossétia do Norte é uma região do sul da Federação Russa localizada ao norte do Cáucaso, região explosiva marcada por guerras étnicas. A protagonista, aliás, faz referência a um dos eventos mais chocantes do século XXI – dizendo ser mais “uma vítima do sequestro da escola”. O “massacre de Beslan”, escola sitiada por terroristas chechenos em 2004, vitimou após a violenta ação do governo russo 335 pessoas – 186 crianças. Em mais uma fantasia no feminino desta edição de Cannes marcada por afirmação de jovens mulheres cercadas por homens abusivos, a personagem principal busca a sua liberdade num meio hostil. O pai é o principal elemento da sua triste vida, que esconde o seu passaporte, impede que ela use maquiagem e, praticamente, a mantém como prisioneira. A cineasta Andrea Arnold, presidente do Júri d’A Certain Regard, justificou o prémio de Melhor Filme da seção afirmando que a obra possuía uma “explosão de originalidade, fisicalidade e sentimento”.

A CHIARA (Jonas Carpignano, Quinzena dos Realizadores)

Do sul da Rússia para o sul da Itália, Calábria é a região do extremo sul do país, terra de montanhas e praias procuradas com cerca de 2 milhões de habitantes. Jonas Carpignano fez dela o centro da sua obra – uma espécie de trilogia a qual acrescenta-se esse filme que distinguido na Quinzena dos Realizadores. A seção não é competitiva, mas o seu patrocinador (Europa Cinemas) atribui algumas distinções – e esta é a segunda vitória do cineasta italiano (depois de “A Ciambra”, em 2017). O filme começa com um caráter intimista e centrado numa família – mas torna-se depois um “thriller” quando uma adolescente resolve investigar o desaparecimento súbito do pai – na verdade um homem ligado a Ndrangheta – a Máfia da região.

MAGNETIC BEATS (Vincent Maël Cardona, Quinzena dos Realizadores)

O outro filme destacado pelo patrocinador da Europa Cinemas é uma revisitação nostálgica à juventude do início dos anos 80. Centra-se em dois irmãos que (sem saber) se experimentavam na sua pequena cidade do interior francês os últimos momentos de uma era. Eles dirigiam uma “rádio pirata”, onde tocavam Joy Division e Iggy Pop; bebiam, fumavam e dançavam pelas redondezas. E, sobretudo, achavam-se o máximo da rebeldia. O irmão mais velho terá de fazer serviço militar; mais tarde os anos 80 avançarão e trarão outras rotas… De acordo com o Cineuropa, Cardona propõe uma mistura de géneros de forma inventiva – algo entre a crónica social, o drama e o romance – já que há uma rapariga entre os dois irmãos…

FEATHERS (Omar El Zohairy, Semana da Crítica)

O júri da Semana da Crítica, liderado por Christian Mungiu, assegurou a distinção máxima a um filme que tem sido destacado pela forma bizarra na qual aborda a problemática feminina na sociedade egípcia. Vivendo com o marido e três filhos, uma mulher segue a sua rotina, onde obedece as ordens do mesmo e cuida de seus afazeres – até que numa festa um mágico transforma o seu marido numa galinha! A partir daí a rotina dela muda até um ponto que descobre uma liberdade pela qual decidirá lutar ferozmente… Primeiro filme do cineasta egípcio. Segundo o Screen Daily, que afirmou que perto das duas horas de duração começa-se a fazer sentir o ritmo lento do filme, não será muito fácil “Feathers” encontrar um lugar no circuito comercial – algo dificultado pelo tom cada vez mais lúgubre. Mas a premiação em Cannes pode, pelo menos, garantir a longevidade nos circuitos festivaleiros.