“Black metal”: 5 músicas (e histórias…) essenciais
Dois grupos da primeira geração, surgidos a meio dos anos 80, e três da segunda, construída em torno da alucinada cena do “black metal” norueguês: assim organiza-se essa pequena introdução ao ultraviolento imaginário de artistas que não apenas tocaram rápido como nunca antes, gritaram desalmadamente, como pensaram a morte ou iniciaram-se por “satanismos” diversos com uma gravidade macabra (e o famoso e sinistro “corpse paint”) que tornava fácil confundi-los com um verdadeiro exército de Satanás.
BATHORY “Call from the Grave” (Álbum: “Under the Sign of Black Mark”,1987)
Do terceiro álbum dos suecos (praticamente a banda de um único homem, Tomas “Quorthon” Forsberg, vítima de uma morte prematura por um problema cardíaco congénito em 2004) veio esse soturno “chamado da tumba”, cuja descrição (“Enterrado na terra úmida / No escuro e frio… Eu arranco a tampa, estou sofrendo / Em uma tumba fria e sem nome”) deixaria orgulhoso o mestre dos enterramentos vivos, Edgar Allan Poe. Para além dos temas soturnos o Bathory ingressou cedo na pancadaria crua que acabaria por dar na auto-estrada rumo ao potente e sinistro “black metal” norueguês. Neste sentido, em que pese a influência do teatro dos horrores do Venom, foi Quorthon e associados a estabelecer a partitura de onde o “black metal” surgiu.
CELTIC FROST “Circle of Tyrants” (Álbum: “Mega Therion”, 1985)
Mesmo caso dos suíços de Zurique, que também fincaram pé na ultravelocidade e nas rajadas de guitarras em anos bem longínquos: o primeiro EP é de 1984 e o álbum de estreia, “Mega Therion”, é do ano seguinte. Como tantas bandas no “metal”, especialmente a partir dos anos 80, também mergulharam fundo na História e na mitologia para desencavar enredos e fantasias e, por aqui, todo o tipo de vilanias. Diferentes de outros célebres, por exemplo, é possível antever um uso menos místico e mais realista do passado – como o comprovam “The Usurper” e esta “Circle of the Tyrants”. Terminaram por ser dos grupos mais influentes do período.
MAYHEM “Freezing Moon” (Álbum: “De Mysteriis Dom Sathanas”, 1994)
Os assassinatos, suicídios e incêndios de igrejas que envolveram a história mais louca da história do “rock” (o Mayhem foi o mais famoso, mas outros atos igualmente infames proliferaram nas terras escandinavas, como o Dissection e o Emperor) não apenas foram trágicos para as suas vítimas, mas acabaram por ofuscar o facto de que a banda legou para posteridade um dos mais intensos registos do “black metal”. Ou seja, como atesta o conjunto de canções deste “ritual misterioso do Senhor Satanás”, havia música e talento também. “Freezing Moon” chega a ser bela em meio a intensidade sinistra da atmosfera, com imagens evocativas nas letras, no potencial das guitarras do trágico Euronymous, no vocal do húngaro Attila Csihar e na bateria de Metalhammer. (Confira aqui a história dos Mayhem na abordagem ao filme “Lords of Chaos”).
EMPEROR “I Am the Black Wizards” (Álbum: “In the Nightside Eclipse”, 1994)
Embora seus crimes tenham ficado menos célebres, dois dos três músicos da formação original (Samoth, por incêndio de igrejas, e Faust por um homicídio gratuito num parque), também foram parar à cadeia, restando o vocalista e teclista Ihsahn. Eles também fizeram parte do infame círculo de Euronymous nos fundos da sua loja de discos Helvette (história em “Lords of Chaos”). Confusões à parte, essa sensacional pancadaria, acrescida dos muito originais (e tétricos, certamente) uso de teclados (eventuais pioneiros do “metal sinfónico”) deixaram também para a história esta terrífica narrativa sobre uma entidade maligna que reina suprema no cosmos, transcende tempo e espaço, vai dos montes aos lagos sem fundo e cujo mal reina absoluto sobre os magos e as “almas negras”.
DARKTHRONE “In the Shadow of the Horns” (Álbum: “A Blaze in the Northern Sky”, 1991)
Apesar da explícita influência de Euronymous no sentido de adotarem pseudónimos (Nocturno Oculto e Fenriz)) e rumarem para o “black metal”, os Darkthrone foram bastante enfáticos em distanciar-se das atrocidades dos congéneres de Oslo. Melhor para eles e, se a agressividade fica por conta da música, essa rápida, rasteira e pestilenta sonoridade nada a fica a dever como uma legítima ode ao Tinhoso. Da sua paixão pelo ocultismo surge aqui a famosa cabra associada a Belzebu em versos poéticos como “Chorando junto aos túmulos dos gloriosos / a geada endurecida derrete / Nuvens se reúnem sob uma lua gelada / Eu beijo a cabra, a bruxaria ainda respira“.