“Indie rock”: Belle & Sebastian retornam com “álbum surpresa”

“Late Developers”, lançado a 13/01, traz 11 novas canções

Os confinamentos devido à pandemia tiveram muitas consequências para os artistas, os quais muitas vezes emergiram da experiência com obras reflexivas ou retratando os traumas de uma introspeção forçada.

Aparentemente para os escoceses dos Belle & Sebastian ficarem trancafiados na sua terra natal (Glasgow) quando a ideia era gravar o seu penúltimo trabalho em Los Angeles, não lhes fez mais do que transformar a clausura em pura energia produtiva: apenas oito meses depois de “A Bit Previous” surge um “álbum surpresa” lançado há três dias. A razão: com o local de ensaios transformado em estúdio, na hora de gravar o disco a banda tinha 30 músicas!

Não que tudo tenha aparecido daí: Stuart Murdoch, o cofundador do grupo no longínquo 1994 e líder da banda desde então, disse que há sempre coisas represcadas no passado, como a melódica “When The Cynics Stare Back From The Wall”, composta na altura do segundo trabalho e que virou um dueto com a cantora do grupo Camera Obscura, Tracyanne Campbell – também de Glasgow e das bandas preferidas do músico.

Já a canção de abertura foi escrita para a comédia romântica “Juliet, Naked”, de onde vem o título, mas ficou de fora quando a própria estrela do filme, Ethan Hawke, decidiu escrever músicas para o filme.

Enquanto Murdoch afirmava a New Musical Express que “A Bit Previous” terminou por ser um álbum mais em diálogo com as pressões da gravadora, o segundo viria a ser muito mais fluído e “pop”. Impossível não concordar e não “seguir” imediatamente coisas como “Do You Follow”, daquelas coisas peganhentas com o sabor único dos B & S. Vale mesmo para o “synth pop” da primeira música a ser lançada (“I don’t Know what You See in Me”) ou “When You’re not with Me”, numa coleção de canções onde sempre supreende a capacidade de variações em termos de ritmos e atmosferas que as músicas sugerem.

“Late Developers” é o 12ª álbum do grupo escocês surgido em 1994 e que em 1996 bancou a sua estreia, “Tigermilk”, com impacte suficiente para lhes levarem ao seu primeiro contato e à gravação daquele que é considerada por muitos a obra-prima da banda, “You’re Feeling Sinister”. O grupo navegou em águas relativamente pacíficas a partir daí, ainda que os seus maiores comerciais (álbuns como “Fold Your Hands Child, You Walk Like a Peasant”) por vezes bateram-se com o mau humor de alguns críticos.

Foi por essa época que ficaram registados para a posteridade com uma piada de Jack Black no “mega cult” “High Fidelity”, que lhes referiu como “old sad bastard music”. Em 2002 fizeram uma banda sonora para Todd Solondz, “Storytelling” (eventualmente seu disco mais mal-amado e do qual apenas seis minutos foram utilizados no filme homónimo dada a relação complicada com o cineasta) e, um ano depois, o seu primeiro trabalho para a Rough Trade (“Dear Catastrophe Waitres”), o mítico selo que durante anos sediou a genialidade dos Smiths e outros luminares “indies” britânicos, marcou o reencontro entre popularidade e a boa vontade especializada.