As destruições do sonho americano: “Os Náufragos do Autocarro”
Se o “sonho americano” é um dos grandes mitos fundadores da cultura “yankee”, a arte foi dos mais insistentes mecanismos a explorar os seus limites – e desastres. Em 1947, ano do lançamento deste “Os Náufragos do Autocarro” (“The Wayward Bus”, no original), John Steinbeck já estava consagrado com alguns dos mais seus mais sonantes títulos (“As Vinhas de Ira”, “Ratos e Homens”). O livro tem edição recente em Portugal pela Porto Editora (chancela Livros do Brasil).
O ponto de partida para a narrativa é uma estação de beira de estrada que inclui um restaurante, uma oficina e uma pousada. É também lá que vive o motorista do autocarro responsável por um trajeto interior da Califórnia adentro. Quando uma avaria obriga uma série de passageiros a pernoitar no local, estabelecem-se relacionamentos e conflitos entre pessoas muito diferentes.
Famoso pelo realismo social, Steinbeck aproveita aqui uma multiplicidade de personagens para entrar pelo meio do sonho americano adentro – revelando a brutalidade do confronto entre os sonhos e os desejos de seus personagens com uma realidade muito dura. Em meio a complicadas teias de relacionamentos, o livro explora temas como a solidão, os sonhos não realizados e a busca por um propósito para a existência. Como pano de fundo, descrições vívidas das singulares paisagens da Califórnia, cenário da maioria dos livros do escritor nascido em Salinas.
A obra ganhou uma adaptação cinematográfica em 1957, com Jayne Mansfield e Joan Collins, e chegou a fazer parte da 7ª edição do Festival de Berlim – apesar das más críticas na época.
Steinbeck ganhou o prémio Nobel em 1962. Faleceu em 1968, em Nova Iorque.