A música e a revolução elétrica: do registo dos sons à indústria em larga escala
Do encontro de música com a eletricidade surgiu uma revolução – na verdade várias revoluções.
A música e a revolução elétrica: a gravação dos sons
Algures no final do inventivo século XIX a música encontrou a eletricidade e nunca mais foi a mesma – tal como não o foram os seus apreciadores. A junção com esta misteriosa fonte de energia obtida através de cálculos científicos e, de resto, revolucionária a todos os níveis da vida humana, transformou a relação com uma arte que até então só podia ser consumida presencialmente – seja entre requintadas “opera halls” ou no “vaudeville” das feiras.
No universo dos primeiros esforços para gravar a voz humana surgiram vários mecanismos – entre os quais o uso de um cilindro para captação. Claro que havia vários inconvenientes: a qualidade de som era baixíssima, os instrumentos de corda desapareciam no meio dos de sopro e os músicos tinham que se colocar posicionados em direção ao cone para melhor serem captados.
Mas o ponto de partida estava dado e, nos anos 20 do século passado, surgiram os microfones/captadores que possibilitariam um mundo de alterações. Os sons agora, além de serem captados, podiam ser drasticamente amplificados, filtrados e balanceados; e há um engenheiro de som para manipular uma mesa de mixagem fornecida pela diversidade de todo um sistema de microfones.
A música e a revolução elétrica: a reprodução
A revolução também se fez acompanhar na forma como os ouvintes passariam a consumir música. Por estas alturas (final do século XIX, início do século XX), para além dos espetáculos tradicionais, uma prática comum estava relacionada às Tim Pan Alleys. Essencialmente, eram pautas que os compradores obtinham para poder tocar os grandes sucessos com os seus próprios instrumentos… Ou, então, pagar alguém para o fazer.
No entanto, inventos de reprodução de som acompanham os primórdios da tentativa de gravá-los: o gramofone, que já pressupunha o registo das ondas sonoras num disco de acetato (e mais tarde o vinil), um gira-discos para o movimentar e uma agulha de diamantes para fazer a sua leitura, começou a ter comercialização ainda em 1895.
Um dos destinos mais comuns para os discos de 78 rpm foram as “jukebox” – que se popularizaram no Estados Unidos mediante uma simples ideia: por uma moeda, o ouvia escolhia a música que quisesse ouvir – curiosamente uma experiência análoga as salas dos “nickelodeons” onde circularam os primeiros filmes.
A música e a revolução elétrica: a distribuição
Um terceiro aspecto desta união entre música e energia elétrica deu-se com a radical transformação da comercialização, surgindo uma indústria cujo um dos aspetos, para além de agora gravar os músicos com cada vez mais qualidade, lança-los à uma escala nacional e, por vezes, até mundial. Neste processo, que possibilitava aos artistas saírem da sua condição de sucesso local, também a Tim Pan Alley começou a ser engolida – por razões óbvias: todos agora podiam adquirir os sucessos gravados!
Para além disto, no caso de quem não tivesse recursos também não havia problemas: o rádio, mais uma consequência da revolução elétrica, expandia-se com extrema rapidez a partir dos anos 30 e tornou-se em mais uma forma de distribuição alargada de música que mudava a relação dos ouvintes com ela.