A história da Antiguidade Oriental: a revolução da escrita

A história da Antiguidade Oriental: a revolução da escrita

Dezembro 10, 2024 0 Por Roni Nunes
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A Antiguidade no Médio Oriente foi palco de inúmeras revoluções, mas poucas com o impacto e as consequências da invenção da escrita. A partir do fim do Neolítico (cerca de 7000 a.C.) foram milhares de anos de evolução de diversas formas de proto escrita até chegar a um momento fundamental – a invenção do alfabeto fenício.

No início eram números e finalidades muito pragmáticas: contabilização de excedentes. Com a progressiva organização das sociedades em comunidades urbanas, instrumentos mais sofisticados foram sendo necessários para quantificar bens e fazer jus a demandas comerciais que se ampliavam em vastas e longínquas redes.

Uma das formas mais antigas de escrita era utilizada pelos sumérios, a escrita cuneiforme. A base era pictográfica: enormes quantidades de pequenos desenhos executados em tabuinhas de argila que tentavam simbolizar um objeto através da sua representação aproximada.

A representação de ideias abstratas

Essa forma de representação apresentava muitas limitações, como a dificuldade em expressar ideias mais abstratas. Foi então que ocorreu uma evolução revolucionária: a utilização de símbolos para representar sons em vez de objetos. Essa associação de sons marcou o primeiro passo para a criação da escrita fonética. O estágio seguinte foi o uso de sílabas, em que signos individuais representavam combinações de consoantes e vogais para formar unidades silábicas.

À medida que os símbolos tornaram-se mais abstratos e estilizados, passaram a representar sons, permitindo a associação com fonemas – as unidades sonoras fundamentais da fala. Essa evolução levou ao desenvolvimento de sistemas alfabéticos, em que um conjunto limitado de signos (as letras) foi escolhido para representar os sons mais importantes da língua falada. Assim, as letras são essencialmente símbolos gráficos que representam fonemas. Por fim, a padronização e a difusão desses sistemas consolidaram a escrita como um elemento essencial na Antiguidade, coexistindo com a cultura oral, que permaneceu fundamental em muitas sociedades.

Um dos sistemas de escrita mais importantes da época, criado pelos povos semitas, foi o alfabeto fenício – que mais tarde inspiraria o alfabeto grego e, posteriormente, o latino. A praticidade desse sistema (consideravelmente mais simples do que o cuneiforme ou os hieróglifos egípcios, que combinavam elementos pictóricos, ideográficos e fonéticos) contribuiu significativamente para sua ampla disseminação.”

Uma revolução cognitiva

A invenção da escrita foi acompanhada por uma revolução cognitiva que ampliou a capacidade humana de registrar e organizar pensamentos abstratos. Ao permitir o armazenamento e a difusão de ideias através do tempo e do espaço, a escrita projetou o conhecimento para além do momento presente e das limitações da memória. Além disso, proporcionou uma forma de organização visual que transformou profundamente os processos de pensamento, distinguindo-se das dinâmicas efêmeras da oralidade

Nas civilizações da Mesopotâmia, do Egito antigo e do Levante, a partir de cerca de 3500 a.C., a escrita começou a ser utilizada para uma ampla gama de finalidades. Desde textos administrativos e religiosos até os primeiros registros literários da humanidade, como cosmogonias, narrativas mitológicas e lendas, esses escritos buscavam organizar e compreender o mundo e dar sentido ao caos do universo.