78 anos depois: a destruição de Hiroshima e Nagasaki
Recriar o que se passou a partir das 8h15 da manhã de 6 de agosto de 1945 em Hiroshima originaria, fatalmente, imagens de um filme de terror. Sobreviventes falaram em pilhas de cadáveres carbonizados, pessoas ainda vivas com pedaços do corpo derretidos ou desmembradas, outras com partes do corpo grotescamente inchadas e uma variedade de manchas de queimaduras. Por todo lado mortos, calor insuportável, escuridão e tudo, claro, sobre uma impressionante pilha de ruínas de uma cidade arrasada à ordem dos 70%.
Três dias depois de Hiroshima, ante o silêncio do imperador Hiroito e das autoridades japonesas, uma nova carnificina radioativa tomou o seu curso em Nagasaki, a 420 quilómetros dali. Aí, sim, o Japão se rendeu. 100 mil mortos instantâneos e um número de vítimas posteriores até hoje impossível de calcular seguiu-se aos efeitos da radiação nas duas cidades.
Um dos grandes sonhos da humanidade: o massacre dos inimigos
A humanidade sempre sonhou com a destruição dos inimigos e Harry S. Truman, o presidente americano, podia exultar alegremente, como de facto o fez no navio que o levava da Europa para os Estados Unidos, ter conseguido a façanha de ter em mãos uma arma com uma capacidade de destruição massiva – a mais poderosa máquina de matar que o mundo havia conhecido. Nada disto destoava do panorama de um impressionantemente violento século XX, onde guerras e genocídios varreram espaços e demografias numa escala sem precedentes.
Apenas três anos antes do exultante Truman celebrar a extrema rapidez e eficácia com a qual o projeto Manhattan conseguiu produzir a fissão nuclear, na Alemanha um bando de lunáticos discutia em termos burocráticos a execução da Solução Final – a melhor forma de matar o maior número de pessoas possível e exterminar um povo inteiro. Considerando que também foram os alemães os primeiros a chegar perto de construir a bomba atómica (os americanos usariam seus estudos e cientistas), imagine-se qual seria o resultado se eles tivessem conseguido.
A ultraviolência da geopolítica
Truman pensava como um político e nunca manifestou qualquer arrependimento sobre as ordens que deu. Para ele estava a se fazer História; se alguma vez se interessou em ver as tais imagens do “filme de terror” descrito no início, isso não teve qualquer significado. Quando Robert Oppenheimer, aliás, falou do facto, chamou-o de “cientista ‘crybaby’”.
O que a frieza da alta política expõe é a absoluta violência com que se tomam decisões geopolíticas: o uso da bomba atómica não era apenas uma forma de arrasar um inimigo de guerra, mas antes dar um recado à União Soviética – revelando o início de mais um pérfido período da história mundial, a Guerra Fria. Mas os soviéticos, ainda sob o monstruoso Estaline, não estavam para brincadeiras: num sensacional golpe de espionagem (George Koval foi postumamente condecorado pelo trabalho por Vladimir Putin, em 2007) conseguiram roubar alguns segredos ultra bem guardados do projeto Manhattan e produzir a sua própria bomba atómica. Os primeiros testes foram no Cazaquistão, em 1949. A partir daí, sabe-se o que aconteceu: a corrida armamentista.
Consequências: “sorte” geopolítica
Apenas cinco anos depois do fim da 2ª Guerra Mundial os já conhecidos efeitos das bombas lançadas no Japão não impediam um sanguinário Douglas MacArthur de querer usar a bomba atómica no novo palco de matanças, já no contexto da Guerra Fria, a Coreia. Os conselheiros de Truman se opuseram veementemente – não por razões humanitárias, obviamente, mas porque temiam a entrada dos soviéticos na guerra. Resultado: a Coreia foi, na mesma, dizimada, mas sem bomba atómica e MacArthur foi destituído do posto de comando.